domingo, dezembro 28, 2008

LUGAR AOS AMIGOS

1-2- segunda-feira, 1 de Agosto de 2005

ANTÓNIO QUADROS, O JORNAL «57» E EU

Data, pelo menos, de 1957, a amizade que me ligou ao escritor António Quadros.
Aceitou-me no jornal «57», que dirigia e onde colaborei com vários artigos.
No quinzenário «A Planície», de Moura, escrevi sobre um livro seu que muito me interessou: «A Angústia do Nosso Tempo e a Crise da Universidade» (1956).
É um dos documentos que deixo no meu site «O Gato das Letras», secção «Lugar aos Amigos» .
Mas os melhores documentos são manuscritos e dactilmanuscritos, dele e meus, que guardo para a história na pasta preta vulgaris, Nº 48 (bola azul) do meu espólio.
Além das cartas trocadas entre nós, há uma dactilografia minha, extensa, sobre o jornal «57» , e que nunca talvez venha a saber se foi publicada: é provável que sim, porque se trata de uma cópia a papel químico do original
As minhas dissidências com a gente d’ A Planície, nunca com o Miguel Serrano mas com o núcleo do Porto que se tornou dominante no jornal, começaram exactamente por essa minha amizade com António Quadros. Para os esquerdistas meus «amigos» era proibido escrever sobre o filho de António Ferro e colaborar no jornal por ele dirigido.
Anos mais tarde, num dos meus muito desempregos, foi ele, como director das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian, que me deu oportunidade de trabalhar na itinerante de Tavira.
Volto sempre a ler os seus livros, incluindo aqueles em que estuda a filosofia portuguesa e não preciso de dizer que concordo com a maioria das suas teses, correctíssimas num país de intelectuais desalmados, para não dizer de «estrangeirados» sem remédio.
Voltarei sempre que possível a reler o António Quadros, repertório inesgotável de ideias e lucidez inexcedível.

A sinopse biográfica de António Quadros ( 1923-1994) no quadro da filosofia portuguesa, pode ser visto no site do Instituto Camões:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/filosofia/1910g.html

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BIOMASSA 2007

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BIOMASSA, BICOMBUSTÍVEIS, EMPRESÁRIOS VERDES & ETC: RESTOS DE UM TEMA QUE FICOU POR DISCUTIR

Já aludi neste blog ao fracasso que foi a publicação do meu texto sobre o problema da biomassa (o que eu julguei ser problema mas que afinal parece que não é), texto que foi recebido com um ruidoso e fúnebre silêncio de morte. Num forum de discussão como a Ambio Archives, raramente ou nunca acontece tão grande e estrondoso silêncio. Discute-se tudo e muito e às vezes bem.
Tendo acontecido, a culpa é portanto e totalmente minha.
Por isso volto ao tema com mais algumas notas do meu bloco-notas, onde dou largas às minhas angústias existenciais, uma das quais, neste momento, é o tsunami da biomassa com que nos ameaçam.
Notícia do «Diário de Notícias»:
«O incentivo à produção de etanol nos Estados Unidos pode originar «consequências devastadoras para os mais pobres e sérias consequências na segurança alimentar mundial», lê-se num estudo a ser publicado no número de Maio/Junho da revista «Foreign Affairs».
A utilização do milho como biocarburante fez subir o preço deste cereal e, segundo os professores da Universidade do Minnesota, Ford Runge e Benjamin Senauer, o facto ameaça a dieta de mais de 2,7 mil milhões de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia.»
É das tais notícias que não precisam de comentário.
Poucas palavras a dizerem tudo.
O que facilita a minha campanha contra o etanol, os biocombustíveis, a indústria da biomassa e etc.
+
Tratando-se de biomassa , os poderes vão todos muito contentes cortar a fita nas badaladas inaugurações. E ainda comentam que é preciso discutir o nuclear.
Ele há coisas fantásticas não há?
Ou serei eu que estou a delirar?
+
Afinal existe um secretário de Estado da Energia.
Hélas!
Não estamos entregues à embriaguês dos verdes: ele chama-se, segundo li, Humberto Rosa.

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NOVOS AMIGOS 2005

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[2-12-2005]

ANTES DA SERRA MECÂNICA

Agradeço ao Canal Odisseia que, num pequeno intervalo, me deu quase uma hora sobre os carvalhos de uma região da Alemanha que nos dizem estar «protegida». Ainda bem. Agradeço aos esquilos e outras criaturas visíveis que apareceram no documentário, felizes no seu habitat e antes que chegue a serra mecânica. Agradeço a todos os que, mais do que sobreviver, ainda conseguem descobrir o maravilhoso que apesar de tudo persiste em existir neste mundo de tsunamis provocados por rebentamentos nucleares subterrâneos. Ou de pandemias virais provocadas por uso e abuso de antibióticos.
Para que conste, deixo a notícia do «Diário de Notícias», pela qual soube do referido documentário:
«« A história do carvalho no Canal Odisseia
«O carvalho é considerado como a árvore entre as árvores, símbolo de força, sabedoria, perseverança e resistência. Um documentário que o Canal Odisseia apresenta em estreia em Portugal, vai dar a conhecer melhor esta espécie.
«O ciclo vital do carvalho corresponde ao de dez vidas humanas e a abertura do seu tronco serve de casa a mais de 500 espécies diferentes de animais e plantas.
«O documentário do Canal Odisseia, que pode ser sintonizado no cabo, intitulado «A Árvore Entre as Árvores», foi realizado por Yves Riou e Philippe Pouchain e produzido pela Cinétévé, de França, em 2005.
«Este documentário acompanha a vida destes gigantes naturais, através de cada uma das estações do ano.
«O carvalho vai ter de superar as altas temperaturas do Verão, as tempestades de Outono e as quedas de neve do Inverno, antes de chegar à Primavera.
«Esta história natural é contada do ponto de vista biológico, cultural, histórico e até mitológico.
«A Árvore Entre as Árvores estreia-se às 21.00, voltando a ser exibido amanhã em duas sessões: 05.00 e 12.00.»»

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IDEIAS AC 1990

1-1 quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002
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A METÁFORA ORGÂNICA E AS (MINHAS) IDEIAS

Lisboa, 18/Agosto/1990 - Era fatal. Agora que a metáfora orgânica surgiu como ideia-mestra da narrativa que me propunha (proponho) escrever, começo a ver essa ideia aproveitada e usada em tudo o que é escritor ou escriba, e por tudo quanto é sítio.
Até um ensaísta como Edgar Morin, de formação científica tão ortodoxa e tão crítico relativamente aos vitalismos, tão certo dos dados exactos das ciências positivas, até ele usa a «metáfora orgânica» quando, na obra «Questões do Nosso Tempo» (1981), compara o sistema de uma teoria (ou de uma doutrina) a um sistema orgânico (um ecossistema) que cria as suas próprias autodefesas contra os «vírus» das influências e críticas, externas ou internas, exógenas ou endógenas.
Pensei que um ensaísta com as responsabilidades «escolares» de Edgar Morin não quisesse rebaixar-se à sedução de ver todo o cosmos (e todos os microcosmos) como uma enfiada de ecossistemas (tipo boneca chinesa), à tentação de usar símiles do corpo e dos organismos para analisar fenómenos políticos, ideológicos e sociais.
William Borroughs, no livro «Cidades da Noite Vermelha», desenvolve a mesma intuição - fazer passar todas as vivências, ideias e terrores pelo metabolismo. Mas em Borroughs trata-se de uma coincidência e não de um rapinanço, de uma intuição fulcral ou crucial e não de um leit motiv ou de um fait-divers. Aliás, foi lendo as suas «Terras do Poente» que se me consolidou a ideia da importância do metabolismo, numa literatura de vanguarda, como aliás já o disse, há dias, a propósito de Rabelais e do seu gigantesco «Pantagruel».
Há, com Borroughs e Rabelais, uma identidade de objectivos, pensamento e sensibilidade que explica a coincidência e me lisonjeia.
Mas já me é muito mais difícil aceitar que o senhor Kundera, no romance « A Imortalidade» (*) se divirta também com uma metáfora orgânica, ao contar a anedota ocorrida com o casal Salvador Dali-Gala: colocados, ao ir de férias, perante a perplexidade de não saber onde deixar um coelho de estimação que adoravam, Gala resolve realisticamente o problema dando de comer a Dali o coelho num delicioso guisado. «Deve comer-se o que se ama» é a lição moral que indirecta e vagamente Kundera extrai deste episódio, desta anedota surrealista.
Mas a questão em Kundera é se o melhor da sua literatura de consumo não serão as anedotas que ele conta ou invoca, nem que para isso tenha de as pedir emprestadas a Dali ou a Goethe. É que, mesmo para plagiar, há que estar naturalmente investido de autoridade moral e poética para o fazer, o que não me parece ser o caso de Kundera.
De qualquer modo, a ideia de um «canibalismo» latente em todo o acto de amor começa a escapar-me das mãos como uma intuição querida de tantos anos e que supunha minimamente original.

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CRÍTICA 1991

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sábado, 25 de Janeiro de 2003
[23-4-1991]


NA CRÍTICA DOMINANTE

Em matéria de modas literárias, há um sectarismo, expresso ou latente, na crítica dominante :

é proibido -- decretam eles -- escrever assim, porque tem que se escrever assado
é proibido fazer ficção com a história ou história com a ficção
é proibido abordar zonas demoníacas, transcendentes, místicas, metafísicas ou surreais da realidade, em nome do realismo pequenino e de via reduzida
é proibido manifestar simpatias ideológicas (apenas piedosas) pelo ambiente, que tem más tradições no nazismo alemão e no seu ideal de limpeza total e a qualquer preço
é proibido escrever em registo «kitsch» e com frases feitas, jogos de idioma, reconversão de discursos menores, perspectivas de escala que não sejam a do homem ocidental, branco, culto, poderoso, rico e com pratas na mesa da casa de jantar
é proibido praticar a «crítica impressionista», porque a crítica científica já distribuiu regras regulamentares por todos os sítios onde se analisam livros
é proibido não ser realista segundo a receita da escola neo-realista
é proibido glosar e gozar os discursos menores e os léxicos subdesenvolvidos
é proibido escrever versos com rima
é proibido escrever modernista desde que chegou o pós-modernismo, é proibido ser pós modernista para os críticos que ainda são modernistas, etc
é proibido glosar e gozar os discursos menores e os léxicos subdesenvolvidos
é proibido usar a primeira pessoa do singular em qualquer narrativa que se queira de ficção
é proibida a confissão autobiográfica, usar a primeira pessoa do singular, eu, eu, eu, excepto...
é proibido não adoptar cada género no seu género, estanque, cada regra na sua lei, cada prescrição no seu regulamento, conforme o regimento ordenado pelo crítico em exercício, excepto se o crítico decretar o contrário
é proibido, enfim, ser escritor fora dos mandamentos da santa madre instituição
Mas tudo isto é proibido, apenas, até ao momento em que a douta instituição, através dos seus ideólogos de serviço, não der ordens para que seja tudo exactamente ao contrário: quanto mais autobiográfico, kitsch, surreal, demoníaco, místico, melhor.
As modas mudam, neste reino flutuante, todos os anos. Quanto menos personagens, intriga e suspense, melhor! Até à próxima época.

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PRÁTICAS 2012

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[14-1-1992]

[publicado in «A Capital»? em um artigo que me foi encomendado sobre o ano 2000 e os votos que eu faria para esse ano? A confirmar se foi ou não impresso]

[DAR FORÇA ÀS ECO-ENERGIAS:ALGUNS EXEMPLOS EM PORTUGAL]

SILÊNCIOS QUE FALAM - PROJECTOS QUE CAÍRAM NO ESQUECIMENTO - PARA UM MANIFESTO DO ANO 2000 - PROGRAMA «VALOREN» [exumar projectos que ficaram na gaveta (ou no tinteiro)]

No campo do que o cidadão comum poderia desejar ver feito, e bem feito, até ao Ano 2000, em seu próprio benefício, o realismo ecologista citaria alguns projectos alternativos energéticos, projectos que vão no sentido da criar maior independência aos indivíduos, grupos, povos e países mas que, por falta de «vontade política» -- sujeita a pressões de «lobbies» e de monopólios -- ou por instabilidade governativa (supremo alibi para não se fazer neste país o que deve ser feito), ficaram na gaveta ou no tinteiro dos ministérios.
Conforme o vespertino «A Capital» referia em 6 de Agosto de 1983, a instalação de uma unidade produtora de biogás, na Várzea de Sintra, a partir de excrementos de porco, (cerca de 1200 animais) aguardava, nessa altura, que a Assembleia da República concretizasse (desse o «sim») a um empréstimo de 2500 contos do Banco Mundial para o efeito. Enquanto projecto-piloto, esta prevista unidade de biogás poderia estandartizar em Portugal uma alternativa energética não poluente e o baixo custo das instalações, além de anular ou neutralizar uma das poluições -- pocilgas -- mais frequentes e mais gravosas do nosso País. Portugal poderia criar, além disso, uma indústria de construção de equipamentos de biogás, a partir do prototipo testado naquele projecto, e poderia tornar auto-suficiente em energia e fertilizantes orgânicos o sector agropecuário. Para isto, falta (faltava e continua faltando) apenas «vontade política». Ou vergonha na cara de quem a devia ter e não tem. Para isto, é óbvia a falta de poder que o Poder tem quando o poder dos lobbies e monopólios abre os olhos e fala mais alto.
Ainda no campo das eco-energias, esperemos que até ao Ano 2000 o pêndulo ondomotriz inventado pelo madeirense Fernando Almada, professor e campeão de judo, se torne uma forma corrente de obter energia das ondas, em que Portugal, com tão extenso litoral, é potencialmente riquíssimo, tal como em Fevereiro de 1983 ficou praticamente demonstrado, quando na baía do Funchal o sistema de Fernando Almada ali instalado evidenciou não só a sua viabilidade como o seu extraordinário futuro económico.
Instalar dezenas, centenas e milhares destes geradores ondomotrizes é o que o cidadão deseja para que o monopólio energético poluente deixe de nos trucidar, ora a pretexto de uma crise petrolífera que se inventa e nos estrangula quando convém aos monopólios petrolíferos, ou a pretexto de um excesso de produção.
O jornal «A Capital» entrevistou o inventor Fernando Almada em 1 de Fevereiro de 1983. Esperemos que o país se mostre grato aos seus inventores, dando-lhes ao menos possibilidades de trabalho. É um bom voto para um futuro próximo.
Já se disse que a maior fonte energética é:
1 - Uma política de efectiva racionalização e poupança por um lado;
2 - Uma política de reciclagem sistemática
3 - Uma política de diversificação de fontes.
Pequenas e médias empresas industriais foram, em Setembro de 1983, incentivadas a montar dispositivos para conservação de energia, podendo contactar a Linha de Crédito do Banco Mundial para as PM's portuguesas. Este incentivo estava a cargo, cremos, do LNETI, pelo que nunca mais dele se ouviu falar. Talvez que até ao ano 2000 e pela calada, a conservação de energia seja um facto e o País posso beneficiar com isso, bem como o respectivo meio ambiente.
# Projecto «Valoren»? [14/1/1992]■

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A TRAGÉDIA DA ENTROPIA EM UNAMUNO


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sábado, 12 de Abril de 2003

RAÍZES DA DECADÊNCIA/ O DESESPERO DOS HEDONISTAS(*)

[(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-]

4-9-1990

A palavra «entropia» ainda não estava na moda quando Miguel de Unamuno escreveu «Del Sentimiento Tragico de la Vida», que agora aparece em nova tradução portuguesa(*). Em 1953, a editora Educação Nacional, do Porto, publicara a versão de Cruz Malpique, mais literal e académica do que esta que o Círculo de Leitores agora apresentou.
Para o filósofo de Salamanca - também romancista, poeta e dramaturgo - a condição humana já era entendida como maldição e prova, no que andou muito perto dos «pessimistas» como Schopenhauer, Nietzsche, Leopardi ou Kierkegaard e também de muitos que se viram englobados no rótulo de «existencialistas».
Mas de uns e outros ele se demarcou, pela intuição central que o título desta obra particularmente expressa: o «sentido trágico da vida» seria o sentido entrópico da vida que regula todos os sistemas morais do Ocidente, baseados num cego, obstinado e estúpido hedonismo. Essa seria, no Ocidente, a nossa «doença», que levámos séculos a difundir pelo Mundo, como a maior pandemia da História. Perdemos as raízes da sabedoria, que consistia exactamente em saber que o homem é energia e que toda a ciência se deverá resumir, afinal, em conhecer a arte de administrar essa energia.
A nossa «doença» chama-se «ignorância» e daí, dessa ignorância, o sentido trágico e cego do caminhar por este mundo. Ler Miguel de Unamuno e o seu diagnóstico, é ler os sintomas exacerbados da Doença que se reconhece, confessa mas não ultrapassa, e isso ainda por preconceito «cultural».
Fala Unamuno dos «Upanishads» mas o seu despeito irritado logo se revela nesta acusação ao monismo das cosmologias extremo-orientais que da Energia sabiam como ninguém mais voltou a saber: «aquilo a que eu aspiro, não é submergir-me no grande todo, na Matéria, ou na Força, infinitas e eternas, ou em Deus. Aquilo a que eu aspiro não é a ser possuído por Deus, mas a possuí-lo, a fazer-me Deus, sem deixar de ser o eu que vos digo ser neste momento. »
A «doença» ocidental, a que Unamuno chama «tragédia», um tanto exageradamente, caracteriza-se por criar essa espécie de catarata ideológica que impede de ver tudo quanto não seja e não ajude ao progresso da própria doença.
Para lá do interesse quase mórbido que a sua fascinante leitura suscita, especialmente aos que gostem de romances policiais, para lá do muito que se aprende e sofre neste testemunho humano de beleza inigualável que é o livro de Unamuno, importa ao militante da Heresia detectar algumas passagens francamente demonstrativas do apego ao erro e da rejeição apriorística das raras janelas terapêuticas que se podem abrir.
Pobres filósofos como este «trágico» Unamuno que, na imensa noite e na imensa doença da «civilização» ocidental, marraram contra as paredes do cárcere, não vendo que eram de vidro..., muitas vezes tendo na mão o amuleto - a intuição central da entropia cósmica - capaz de exorcismar angústias, revoltas, desesperos, mas sem o saber utilizar. Mais: alguns deles, como Unamuno, tiveram o amuleto na mão e deitaram-no fora.

Os filósofos ditos «pessimistas» e, em séculos mais recentes, os «existencialistas», com seus gritos, aflições, insónias e calafrios, são bem a imagem, o sintoma de uma «doença» cada dia mais incurável e de que a Poluição e suas sequelas é apenas um dos sintomas mais ridículos e insignificantes. Mas foi ela, a Poluição, que obrigou alguém a descobrir a palavra Entropia. Valha-nos isso.
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(*) «O Sentimento Trágico da Vida», Miguel de Unamuno, Ed. Círculo de Leitores
(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-

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HÁ JÁ 31 ANOS


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segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2007

Este texto de Afonso Cautela foi publicado na contracapa do livro «Ecologia e Luta de Classes em Portugal», edição Socicultur, 1977,Nº 3 da colecção «Sobreviver», impresso sobre um fundo azul escuro que o deixou totalmente ilegível. Aqui o recupero, preto no branco, trinta anos depois de ter sido escrito e publicado.

O LIVRO

Era urgente encetar o dossiê da luta de classes no campo da Ecopolítica.
Era urgente porque:
Ninguém até hoje o tentou. Poucos desejariam levantar problemas pouco populares nas cinturas industriais das grandes cidades onde os partidos operários recrutam a sua maior força e clientela, lisonjeando as indústrias e a capacidade das indústrias para absorver mão-de-obra. A luta ecológica é assimilada ainda , por alguns quadrantes ditos de esquerda, a uma luta de direita, conservadora, retrógrada.
Porque revistas, organizações e movimentos ecológicos estrangeiros perguntam o que se passa em Portugal quanto a ecologia e luta de classes, convencidos de que se passa alguma coisa...
Para definir uma estratégia prospectiva é imprescindível e urgente saber o que já se fez, o pouco que já se fez para instrução e alento dos que desejem prosseguir ou encetar via idêntica de luta, dos que sabem poder reforçar o poder popular e a unidade popular através da luta ecológica, desde que preconceitos tecnicistas não emperrem a investigação e a luta.
Por todas estas razões, tentámos mais este ensaio de ecopolítica, num quadro de iniciativas em que há dois anos temos empenhado tempo, energia, bolsa e saúde, sob a indiferença e a hostilidade  das elites pensantes e actuantes e governantes deste País.
Daí que, como esforço individual que é, o dossier da luta de classes e ecopolítica em Portugal fique apenas encetado para que outros mais habilitados, mais espertos e seguramente mais revolucionários (trinta vezes mais, por certo) não só possam emitir sobre esse trabalho as críticas sobresuficientes do costume, não só o utilizem como base de trabalho e ponto de partida omisso depois nas beligerantes bibliografias exaustivas exibidas, mas para que façam muito mais , muito melhor e com muito melhor resultado, no mercado da edição.

O Autor
Nasceu em Ferreira do Alentejo a 19 de Fevereiro de 1933. Professor Primário em Faro, foi afastado por pressões políticas. Depois de ser bibliotecário e funcionário público, tornou-se jornalista profissional em 1965. Em 1968, entrou para a redacção de «O Século», onde se mantém. Dirige o jornal «Frente Ecológica» e é autor do livro «O Alentejo na Reforma Agrária» (Diabril).

HÁ JÁ 44 ANOS

1-1-abstenção-1-pp = ping pong das polémicas
Segunda-feira, 4 de Agosto de 2003

POLÉMICA OU ABSTENÇÃO (*)


Talvez haja saída (no Sud, quanto antes...) mas parece não haver outra alternativa. Aqui, parece que não: ou polémica (na acepção pejorativa da palavra) ou abstenção. Ou permanecer mudo e quedo, ou intervir, publicar, agir mas sabendo que as melhores energias se irão desgastar numa pugna , numa polémica de baixo estofo, numa luta que não é luta mas mero arremesso de palavras.
Na selva sem fim de uma cultura que é incultura, de uma vida que é morte literária, de umas artes que são malazartes, - a fatuidade, o bafio, a sobresuficiência dogmática,  a falta de sentido do "que importa", a falta absoluta do verdadeiro "connaitre" que é nascer com e de dentro (e não apanhar de fora e a frio), a falta de intuição, de imaginação e até de "charme", a falta de verdadeiro amor pelas ideias em vez de tanto amor próprio - tudo isto deixa pouca margem à respiração de quem respira, ainda respira.
Querer abrir as janelas e dizer que há mundo, impossível. Querer andar para a frente e dizer que há futuro, impossível. Querer ter esperança e acreditar, impossível. Porque logo surge a má fé, a má vontade, a má consciência e, se a polémica há-de estalar saudável, higiénica, civilizada, o que estala é o insulto, o ponteiro da autoridade, a palmatória de cinco olhinhos revirados para o que ousou sair para a rua - com um livro ou um artigo - em absoluta independência e disponibilidade de espírito, sem as "costas quentes" por nenhuma autoridade, força, instituição ou ideologia, apenas ele e mais nada.
Ah! se fosse possível dialogar! Se fosse possível conhecer serenamente as razões de cada qual e com razões responder! Se fosse possível civilizarmo-nos, mesmo sem ir a Paris! Se fosse possível um esforço heróico de vontade para abater barreiras e barreiras de equívocos que nos lançam, cega, absurdamente, uns contra os outros! Se fosse possível uma nesga de fraternidade neste inferno! Se fosse possível um raio de (sol) que rasgasse este espesso, extenso, inultrapassável, asfixiante nevoeiro!
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no semanário «Notícias da Amadora, 31-10-1964, suplemento literário «Artes e Letras», coordenado por Joaquim Benite e colaborado por Deodato Santos, Vítor Anjos, Fernando Cabrita, Mário Dionísio

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OBSCURANTISTAS 2007

1-2-semente-1-ac-aa> [ambio] a semente do diabo
Terça-Feira, 31 de Outubro de 2006
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obscurantistas-ac-ca>

A SEMENTE DO DIABO

Se não há saída, se «a idiotice e o obscurantismo ameaçam o mundo», como Carlos Aguiar deixa bem claro na sua mensagem urbi et orbi, no seu diagnóstico do Apocalipse, só resta, como ele quer e vivamente recomenda, a luta, a resistência, a guerra, a grande batalha (final) do Armagedão.

Estou com ele e com os seus presságios. Venho, portanto, aderir de alma e coração à grande Cruzada contra o Infiel, respondendo ao apelo desesperado, solitário e heróico de Carlos Aguiar, para que nos mobilizemos todos e, ao seu lado, codo a codo, caminhemos em frente na nova frente unida que se impõe neste tempo-e-mundo de fim do mundo: os civilizados do iluminismo contra os bárbaros do obscurantismo.

Seremos poucos, deste lado da barricada, provavelmente só ele e eu, mas não baixaremos os braços (jamais) e heroicamente iremos enfrentar não só o ridículo mas o dragão da crassa ignorância e da mentalidade anti-científica que grassa como um vírus quase tão maléfico como o outro que os iluminados cientistas inventaram e a que chamaram «gripe das aves».

Se tudo, neste tempo-e-mundo, está contra a boa e justa causa que o Carlos Aguiar defende e eu com ele, se tudo ( até os académicos, antes impolutos de tais culpas e desmandos) conspira contra nós - os puros - na tenebrosa sombra e nas alfurjas da subversão, se tudo, incluindo os pérfidos media, está contra o iluminismo fosforescente, não teremos outro remédio senão ir, ao som das trombetas tonitruantes, contra a corrente mais do que dominante.

Ao arrepio das forças satânicas do mal.

A propósito de sítios na Net que também (não) alinham na contra-subversão, na grande guerra agora declarada, cito apenas alguns.

Entre esses sítios encarregados de divulgar o novo e negregado obscurantismo, cito o mais recente canal da rede TV Cabo: Canal Infinito, Canal 49 para quem tenha Power Box e Canal 18 para a TV Cabo normal.

Não confundir com o Canal 18 de alguns meses atrás, softcore a comparar com este tal «Infinito», francamente hardcore para espíritos sensíveis como os do Carlos Aguiar.

Duas rubricas desse canal atestam como está infinitamente ao serviço do neo-obscurantismo :

1) «O Olho de Hórus», uma série sobre a iniciação dos hierofontes egípcios;

2) «A Hora do Complô».
+
Outros sítios onde a semente do diabo pode ser encontrada:

Obscurantistas

Antologia do maravilhoso

Balanço da civilização

Barbárie tecnológica

Biologia alargada

Bio-ritmologia

Bússola do Pêndulo

Ciência ordinária

Ciência da analogia

Componentes da alma
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Etienne Guillé ( o maior obscurantistas de todos os tempos)

Michio Kushi (o segundo maior obscurantista de todo os tempos)

Linus Pauling (o obscurantista dos dois prémios Nobel)

Ivan Illich (o rei dos obscurantistas)

René Lévy ( e outros, muitos obscurantistas, a lista interminável dos que conspiram contra a humanidade e os auto-iluminados)

Posso enviar ao Carlos Aguiar mais munições para a sua luta, mais uns 500 sítios, de A-Z, onde o «relativismo céptico anti-ciência» grassa como pandemia mortal.

Absolutamente de acordo, amigo e camarada Carlos Aguiar: «há um padrão histórico que é necessário combater a todo o custo.»

Vamos a isso.

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IDEOLOGIAS 1991

1-1- bigmania> leituras> ficcoes>-3207 caracteres - [discurso aberto quase inventário] para leituras moraes – tese de 5 estrelas

A BIGMANIA CONTRA A GRANDE NOITE DO CAOS

12/5/1991 - A negra maré, o caos, a dissolução, o vazio, o mistério da origem e do fim, as trevas, que pode o ser mísero e mesquinho, o rasteiro mortal para não se desintegrar face ao nada?
Tudo o que ele tenta é contra o Terror Horror. O que ele procura -- na tortura e nas viagens, nas lutas e conquistas, nas novas e antiquíssimas tecnologias, na política e na electrónica -- é o que totaliza, unifica, contrai, uniformiza, ordena. O que lhe dá, enfim, a ilusão temporária de eternidade.
De oceano infinito. De superfície espelhada, uniforme, sem rugas.
A ideologia consumista tenta responder a essa necessidade premente, a esse permanente horror de um confronto, de um frente a frente com o vazio, de cada um consigo mesmo, quer dizer, com Deus, quer dizer, com a Morte, o Nada, o Infinito, o Caos, o Universo, pela proliferação infinita de gadgets e objectos.
Hitler respondeu com a ideologia do sacrifício e da totalidade totalitária, com o ideal rácico e patriótico, capaz de abranger semanticamente uma fatia do real que imita, a olho nu, a Realidade.
Marshall Mac Luan respondeu com a Aldeia Global dos «media» electrónicos.
Salazar respondeu com as Finanças assimiladas com a Nossa Senhora de Fátima e o Milagre da Pátria.
Gandhi respondeu com a resistência satiagrai ao invasor ocidental, branco e ateu. Britânico, essência de todos os horrores.
Pedro o Grande respondeu com as glórias da Grande Rússia que tinha a vantagem de ser, comparativamente a Portugal, efectivamente grande -- o que se diz imensa.
A Alquimia respondeu com a Transmutação do Chumbo em Oiro!
O ideal de Riqueza, Beleza, Longevidade, Poder responde, entre greco-latinos & anexos mediterrânicos, e seus cânones, na tentativa de substituir o Caos por uma Ordem, pequena ou média, formal ou visionária, mas ordem.
As ordens iniciáticas, as sociedades secretas, respondem, pelo rigor e pela disciplina, pela comida espartana, pela cama rija de palhas ao desatino do que fica de fora e é disforme, dissonante, inarmónico.
O mito do Preste João, do Graal, da Taça templária, responde com um simulacro de ordem à Desordem, de alma ao Vazio, de Deus ao Buraco Negro e ao vazio da Morte.
Religiões, Seitas, Publicidade, Propaganda, especialmente a Propaganda, os Media, a Aldeia Global respondem electronicamente à necessidade de um Éden, mesmo ilusório, mas de um Éden onde o gozo só por si faça sentido e não tenha do outro lado um Cancro galopante.
A expomundial 93, a Europália 91, o Centro de Belém -- mausoléu de todos os poderosos -- o Mercado Único 92, as Olimpíadas 92, a Expo 98, [---] respondem à necessidade metafísica de calar o Remorso do Primeiro Mundo pela expoliação do segundo, do terceiro e do Quarto mundos.
Os Óscares, o Nobel, o Pulitzer, o prémio Lenine[---]
A repressão sangrenta unifica no Curdistão, no Tibete, no Timor-Leste.
O Papa dá, por dois dias, por dois tostões per capita, a ilusão de pertencermos à mesma ordem, ao mesmo casulo protector onde as ondas do Caos vêm bater raivosas mas aparentemente com menos violência

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