quinta-feira, janeiro 24, 2008

VERSOS AC 1960

aaa-ml-1960-> 25-05-2005 10:38:13

ELE EXPLICA-SE EM PROSA SOBRE OS VERSOS QUE ESCREVEU

[A data do texto a seguir digitalizado deve ser mais ou menos o ano 1960 ou 1961, à volta da publicação do segundo livro de versos e quando já se preparava para um terceiro de poemas só sobra cidade. Como ele diz no file , ao compilar dez anos de versos de sua autoria , quis explicar-se sobre o tipo de versos que escrevia. Toda a vida dele se andou a auto-justificar não se sabe muito bem porquê nem para quê: manias.]


NOTA FINAL

Só uma necessidade quase obrigação poderia justificar hoje a reincidência do autor em publicar versos.
Na verdade, o silêncio significa, por um lado e em relação a determinadas constantes históricas que se eternizam, um quase religioso dever a que ninguém de consciência se deve furtar; por outro lado, o silêncio pode querer dizer também, mais do que abdicação, uma covardia de implícitas condescendências.
Vive-se, não há dúvida, um tempo de agrestes contradições e nunca se sabe ao certo o que deixa de ser coerência para aparentar abdicação e o que parece demissão e vem afinal a ver-se que foi teimosia na fatalidade, compensação do desespero.
Não fica, neste livro, a parte submersa do «iceberg»: como se sabe é sempre a maior. Nele se insere, em 10 anos de viagem pelo papel, o que ao mesmo tempo seja documento, testemunho, presença. O que representa atenção ao quotidiano que, se nos parte e reparte na fragmentação da violência, da doença, da solidão, é também o húmus onde o escritor ou o escritor de versos pode ouvir o coração dos outros de quem tão afastado anda pelas subserviências da estúpida sobrevivência profissional.
Queria de facto que o sofrimento humano fosse, mais uma vez, o protagonista da história. Desta história, contada em breves episódios e apontamentos do dia a dia da cidade. Desta história dos que não têm história. Não canto o anónimo por regozijo, mas porque só vale a pena cantar o sagrado e, no mundo des-sacralizado a que vamos chegando, só a dor dos humildes e humilhados é ainda sagrado, quer dizer, uma hipótese de absoluto a que referir tudo.
Os que entre nós sabem de poesia, já sabem que o autor não procura a forma: em vão, portanto, o tentariam detectar desta feita. Dos versos se serve ele, porque são murro mais directo (na mesa do jogo) ou abraço mais terno.
É uma afirmação que leva consigo a consciência colectiva que houver, as esperanças comuns a construir.«Engagé», se assim o rotularem. Péssimo poeta, se assim o quiserem também. Mas cantar é sina de todos os que, na efemeridade e fragilidade do tempo destinado a uma vida, não se resignam ao cor de rosa de nenhum optimismo mas muito menos aos becos sem saída dos desesperos.
Quando se canta, pesa menos a vida, e é mais fácil a comunicação. Só por isso o autor reincidiu nesta asneira que ele considera a literatura em geral e os versos em particular.
AFONSO CAUTELA
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ANEXO A NOTA FINAL

Em livros e artigos de jornais, os críticos portugueses têm proclamado, já por várias vezes, diversos decretos-lei definindo o que é e o que não é poesia.
Atento a esse intenso movimento legislativo, fui verificando, através dos textos teóricos e dos exemplos práticos com que esses críticos costumam ilustrar as suas palavras de ordem, que os versos deste volume não obedecem às normas dali emanadas e que, por isso, não esperam estar de acordo com eles nem que eles venham a estar de acordo comigo.
Fora, portanto, do que os mais avançados teóricos pressupõem que seja a poesia, se não desisti de publicar parte da produção que , através dos anos, a gaveta guardou, um motivo devo invocar: parece-me necessário um discurso que testemunhe em duas frentes - a da abjecção e a da fraternidade. O trabalho profissional, que faz de nós ridículas sombras de nós próprios, não consegue, porém, matar de todo a figura humana que teimamos em manter sobreviva.
E o discurso literário - os versos, pela síntese do essencial que facultam - parece-me o único meio daquele testemunho. É uma forma de equilíbrio de consciência que nada terá a ver com poesia - mas quem disse que tem, ou que não tem? - mas que tem a ver tudo com a posição do autor nas ruas desta cidade e nas cidades deste mundo.
Afonso Cautela ■

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HEMEROTECA AC 1980

1-1 - aaa-ml-80-88>ver se tudo isto ficou também em 80-03-15-cr-ef>

28-05-2005 12:19:43

[Antes de rasgar mais um papel perdido, registo as preciosas informações sobre a minha actividade de publicista tentando desacreditar o progresso (mesmo que quisesse não posso nunca passar à história como progressista, depois de tanto mal ter dito do progresso)].

AS CARNIFICINAS DO PROGRESSO(*)

(*) Publicados in «a capital», 1980, 87 e 88

SUMÁRIO DE ARTIGOS PUBLICADOS E QUIÇA DIGITALIZADOS POIS VERGONHA FOI O QUE NUNCA ME FALTOU :

Os ecologistas, inimigos da civilização, 15-3-1980 (CPT)
Ozonoburacos , 1-4-1989 (CPT)-> scan - ozono-3>
Quando a catástrofe se chamava CEE , 1980
Ameaças de paz, 20-8-1988 -> scan
A sombra de Chernobyl, 9-5-1987
Metas do progresso
Sucessos e retrocessos do progresso

AC ANOS 50 & 60

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12-4-1999

LÉXICO DAS MINHAS OBSESSÕES E IDEIAS FORTES (ANOS 50 e 60)

Palavras que começaram a tomar peso, a partir d' «A Planície»:
- Não violência de Gandhi e pacifismo de Bertrand Russell
- Convívio e fraternidade de S. Francisco de Assis
- O cooperativismo de António Sérgio
- A utopia personalista de Emanuel Mounier
- A prospectiva de Jean Fourastié

Anos 60 :
- O mundo das eco-alternativas de Ivan Illich

HEMEROTECA AC 1967-88

1-2 - hac-1-chave AC - história de afonso cautela no interface da frente ecológica os anos cruciais : antes e imediatamente depois do 25 de abril a descoberta do quotidiano na intuição da ecologia humana

20-10-1998

1967-1988: OS 3 S DA ECOLOGIA HUMANA

«Cenas do Terror Quotidiano» foi o título de uma secção que o autor publicou, desde 1971, no semanário «Notícias da Amadora», sobre temas de Ecologia Humana que na época eram ainda mais heresia do que são hoje.

Em 1973, sob o título «Crónica», publicou no jornal diário «O Século», diversos apontamentos sobre o quotidiano do cidadão, nomeadamente sobre o peão na cidade e seus direitos ecológicos.

Em 1973, na secção intitulada «Meio Ambiente», publicou no «Diário do Alentejo» (Beja) dezenas de artigos sobre temas do quotidiano sem importância e defesa do cidadãos, utente, consumidor, etc, assuntos também e ainda tabu.

Em 1975 (Fevereiro), na secção intitulada «Ninharias», do jornal «República», publicou apontamentos sobre o quotidiano do consumidor, crónicas do mundo concentracionário da cidade, cenas do fascismo quotidiano.

No mesmo jornal «República» e na secção intitulada «Margem Esquerda» analisou quase diariamente, entre 1972 e 1975, o discurso do poder, fosse ele de esquerda, centro ou direita, discurso intrinsecamente ligado à opressão do indivíduo pela instituição. Era o vírus anarquista.
O mesmo se diga, no mesmo jornal, para a secção «Relances».

Em Janeiro de 1979 iniciou, no semanário «Voz do Povo», a convite do redactor Mário Alves, a secção «O Paraíso dos Consumos».

No quadro da campanha que, como jornalista, desenvolveu em defesa do cidadão e dos seus direitos ecológicos à saúde, à segurança e ao silêncio (os três S da época...), a campanha mais demorada incidiu sobre o ruído (e o direito ao silêncio) e, dentro do ruído, teve dezenas de artigos nas seguintes publicações: «Diário do Alentejo», «O Século», «O Século Ilustrado», «Diário de Lisboa» e «Eva».

A fase intensiva de artigos sobre defesa do consumidor, vai de 1968 a 1973, com dezenas de artigos publicados nos jornais indicados, a que se acrescenta «Notícias da Beira» (Moçambique) e «Conteste».
Uma rápida selecção de títulos dá ideia das intuições e preocupações dominantes:
- Aperta-se o torniquete
- O paraíso dos consumos
- Armadilhas do consumo
- O consumo provocante
- Delícias do consumo
- Os males do gigantismo
- O mundo concentracionário da cidade
- Cenas do fascismo quotidiano
- Contra o ruído, marchar, marchar
- A campanha que ninguém quis
- O ruído e outros lixos chamados poluição
- Uma pinga de silêncio no oceano de ruído

«Ensaios sobre o Ambiente Urbano» podia ser o título comum às dezenas de crónicas e artigos que, entre 1967 e 1976, publicou nos seguintes jornais:
Conteste
Diário do Alentejo
Notícias da Amadora
Notícias da Beira (Moçambique)
O Século
O Século Ilustrado
República

De comum a todos eles, a intuição de que no quotidiano simples e sem importância se jogava um direito ecológico fundamental: o direito do cidadão à saúde, à segurança e ao silêncio (os três S da Ecologia Humana).
Inéditos e publicados posteriormente, em especial na Crónica do Planeta Terra, não fazem mais do que re-glosar os temas e preocupações que já estavam em questão desde, pelo menos, 1967.

Ao completar, em 1988, vinte anos depois, 10 anos de publicação semanal dessa crónica, pode ver-se que a luta pelos ecodireitos do homem, desde o final dos anos 60,não foi ocasional, não foi colada com cuspo e à pressa por pressão dos oportunismos político partidários.
Na descoberta do quotidiano estava (está) a intuição fundamental da Ecologia Humana.

NIGREDOS AC 1994

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10-10-1994

HOJE ACORDEI MÍSTICO 
E COM AMOR A TUDO O QUE É HUMILDE

Místico assumido, recordo outras mutações da adversidade. Recentemente, quando a maior crise de intestinos me fez encontrar o Pêndulo e a obra de Guillé, quando outra crise idêntica me fez encontrar a Macrobiótica, foi sempre o amor das coisas pequenas e simples e (mas) poderosas que me atraiu.
O Arroz ontem, o Chá de Vegetais Doces agora. Mas também esta esferográfica que me permite escrever a minha gratidão para com eles, este clip que me segura os papéis, esta maravilhosa caixa de folha onde guardo o relógio quando estou na praia. Esta praia pequena e por ser pequena, bela, sossegada, magnífica, e não ser grande. Que gratidão por esta lagartixa que me visitou hoje o rectângulo mágico como que a inaugurá-lo, por esta mosca esvoaçante mas que eu tenho de expulsar ou matar, por esta aranhinha que teima em viver e tecer a sua teia.
Se estou místico, é porque estou reconciliado com tudo, mas principalmente com o que é humilde, anónimo, insignificante, facilmente espezinhával pela minha arrogância, pela cegueira da minha arrogância.
E por isso fiz as pazes com a cadela Tracy. Por isso o vento que sacode a rulote é um berço de embalar como quando a minha mãe me embalava (terei tido berço alguma vez?). Mesmo aquele pimentão tão vermelho e tão forte, que me fez reaparecer a dor no intestino, o abendiçoo. E a máscara africana de que se disse tão mal lá em casa, como eu a amo, como eu lhe estou grato e tanto mais a amo quanto mais ela me agravou a dor nos intestinos, que me levou - como que empurrado -- ao Manuel Fernandes e deste a Etienne Guillé, como se seguisse o Fio Dourado do Pêndulo. Abençoados todos, meu Deus!

Praia Grande/Praia Pequena, Abril(?)/1992

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LEITURAS AC 1990

1-1 - 1212 caracteres - telenove>manifest>livros>sábado, 14 de Maio de 2005-> discurso sobre os discursos com alguma ironia

31-5-1992

4º trimestre de 1990

A FUNÇÃO DO FOLCLORE ROMANESCO TELENOVELESCO

Para efeitos de serviço social à periferia, a literatura deve considerar-se, utilitariamente, subdividida em várias «funções»:
- a função «bode expiatório», com todos os estripadores do mundo do crime
- a função «compensadora» das desigualdades sociais, com todos os romances da cochinha
- a função «catártica», com todos os melodramas, cujo modelo é o «Cuore» de Edmundo de Amicis e todas as «Heidi»
- a função «equilibradora» do tónus sentimental, com todos os Kundera, os Kauffman, os (...)
- a função «publicitária» directa, quando se inventa um personagem alcoólico que irá ser tratado e curado através da Associação de Alcoólicos Anónimos
- a função «propagandística» directa, com todas as histórias de holocausto, em que Hitler é o mau da fita e os judeus os eternos desgraçadinhos, comidos à dentada pelo Hitler
- a função «rocambolesca», com os novos escritores franceses na grelha de partida para serem comidos pelo churrasco, ou no lume brando de uma sida que se transmite por transfusão sanguínea mas que só interessa tornar célebre através de escritores com todos os hábitos de inversão sexual.

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