quarta-feira, janeiro 23, 2008

INÉDITO AC 1986

86-10-18-cr-ef> cronologia ac

18.10.1986

O RELÓGIO ATÓMICO DA AJUDA

Este inédito contém um subtítulo – a sida dos imbecis – absolutamente impublicável e que em parte pode explicar porque o inédito se manteve inédito.
Relaciona-se este texto com algumas linhas de fundo de eh, maldita por definição: biocracia, ergonomia, eugenia nazi, eurocratas, mito do perfeccionismo, recursos humanos.

 OUTROS ITENS RELACIONADOS:
Progressos de Engenharia Humana

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TECNODIS-IE-BD>■

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MY LIFE EM 1999

1-2 - 70anos>

7-9-1999

CENAS (EVENTUALMENTE CHOCANTES) NA AR
OBRIGAM-NOS A VER (E A PAGAR) O ESPECTÁCULO QUE ELES DÃO

[Não imagino de quando (de que data) poderá ser, exactamante, este texto inédito sobre a Assembleia da República , mas até deve ser bastante anterior ao escândalo máximo e à máxima afronta que foi o auto-aumento dos deputados, comentado em página de diário de 1989.
Este texto é do tempo em que a palavra cidadão - os direitos ecológicos do cidadão... - andava muito na minha linguagem. Ainda estava longe o ser humano pós-radiestesia ou o «todos os seres» do budismo Nyngma. A expressão «maioria silenciosa» leva a pensar numa data muito próxima do 25 de Abril, em que a tal maioria silenciosa foi muito falada . Também a «democracia directa» versus «democracia parlamentar» faz lembrar o auge do PREC (processo revolucionário em curso) (2/Setembro/1999)]


Anos 70 - Aberta a janela (indiscreta) da TV para o que se passa nessa «casa de horrores» que é a Assembleia da República (outrora Assembleia Nacional), eis o cidadão da maioria silenciosa enterrado no fauteil da sua displicência, a roer as unhas de nervoso, humilhado e ofendido com quanto ouve, quanto vê, quanto julga estar a sonhar.
E se de todo em todo ainda não capou a capacidade crítica de uma República que não é das Arábias, vai congeminando, reflectindo, concluindo coisas totalmente à margem desse «tumor».
O seu amor próprio é o primeiro a sentir-se tocado (chocado) : aliás, no amor próprio radica boa parte do espectáculo degradante que são os partidos arrepelando os cabelos uns aos outros - enquanto a malta vai pagando impostos.
O cidadão comum sente-se chocado no seu amor próprio por estarem a falar em nome dele e tudo aquilo - que não lhe diz respeito - se sentir «legitimado» pela conversa do líder A, B ou Z, adrede encomendada para ali representar a rábula do Partido A, B ou Z.
Além de vexado, o cidadão sente-se insultado: na sua inteligência e nas suas necessidades. Nos seus reais interesses.
E vê então o abismo que separa a democracia directa da indirecta democracia parlamentar.
Mas mais: vê que a realidade não deixou de estar em movimento (por muito pantanoso que tivesse sido tudo isto) enquanto os discurso da A.R. , como se estivessem a ser reproduzidos num fonógrafo do princípio do século, reproduzem ecos de ecos de coisas já (ultra)passadas senão mesmo mortas.
Esta impressão de fantasmagoria persegue o nosso bisbilhoteiro olhar sobre essa casa. Os oradores invocam pontos de honra, tecem conceitos de moral política, sabem tudo sobre o bem e o mal, mas a vida, a realidade, o país, que não pode parar em paisagens românticas do século XIX , nem enquistar-se em matéria de catecismo , continua, bem ou mal, a mexer-se, a vibrar, a mover-se, a viver...
Entre esta vida que não para - mesmo que a matem - e o ambiente de estufa que vemos no janeloco da TV em dia de transmissão directa - o cidadão pergunta que relação haverá.
O cidadão acredita no regime dos partidos.
É realista e sabe que os partidos são um mal necessário.
Mas também vê , percebe, intui que os partidos têm de ser reformados.
E já.

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IDEIAS AC 1967

1-1- 67-09-17-di> quarta-feira, 15 de Janeiro de 2003

PROGRESSO

17/9/67

A maior parte, quando fala de progresso apenas vê fábricas a construir e em laboração, investimentos financeiros, pontes e engenharias, cidades que se alargam e arranha-céus que crescem, enfim, o que a tecnologia entregue a si própria faz, sem curar de saber em que sentido, para quê e para quem.
Todo esse afã de progresso não tem sentido algum fora dos objectivos que visa; e não é porque o comércio, as indústrias, a construção civil, os transportes, as estradas e ferrovias aumentam de número (raramente de qualidade) que vivemos em progresso ou a caminho dele.
O mais negro materialismo rege, portanto, a tecnologia que não se apoia numa ética humanista, que não se integra em uma planificação política realmente popular e democrática, ao serviço de todos e nem só dos empresários fabris.

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MÍSTICA AC 1962

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segunda-feira, 20 de Junho de 2005-> [várias dúvidas neste texto hoje digitalizado. A quem se dirigia a carta se é que era carta. Porque o intitulei na altura de «manifesto» e o classifiquei de 3 estrelas. Porque consegui capturar o essencial da minha vida em 2 páginas? Porque tinha a palavra «alma» esse peso em 1962, peso que só tive coragem de reaver com o etienne guillé em 1992, 30 anos depois? Eterno retorno circular do tempo? ]

E ISTO NÃO É FRANCISCANISMO

20-3-1962

Insisto na «alma» e na «grandeza de alma», palavras, ao que parece, antiquadas e em desuso. Claramente, é isso e só isso que procuro. Não me insurjo, invejoso e ressentido, contra os da «alma grande». Procuro-os e não posso viver sem eles. Procuro-os no convívio dos mortos (nos livros) e no convívio dos vivos.
Os vivos, porém, quantas vezes me desiludem? Não sou grande de alma, mas por isso procuro os que o são, e só com esses não tenho veneno. Porque não me iludem nem me intrujam os atributos - sejam eles quais forem - exteriores à «grandeza de alma». Podem ser talentosos artistas, insignes eruditos e ilustrados críticos, competentíssimos doutores, profissionais valiosos, técnicos esplêndidos. Podem ter tudo: riqueza, prestígio, celebridade, Mas ter - títulos ou dinheiro ou influência ou sabedoria ou o diabo - não é ser.
A minha raiva, o meu veneno, o meu desgosto sobre tudo, sobre quase tudo o que os contemporâneos das artes , das letras, das ciências e da política fazem, é só e sempre e apenas por isso: por os não ver maiores e por me obrigarem a ser - por contágio - pequenino. Não suporto, não perdoo a mediocridade de «alma». Não tenho política, nem ética, nem estética, nem lógica, porque a alma não existe compartimentada. Não tenho a alma repartida por gavetas - nem quero ter. E vou aos arames quando me obrigam a gavetas, ou vejo os outros obrigarem-se.
Só exijo isto: tenhamos menos e sejamos mais: tenhamos menos instrução no miolo, menos feijões no bucho, menos notas no bolso, menos petulância no olhar. Mas sejamos mais, sejamos ambiciosamente mais. Nem as artes, nem as letras, nem as ciências, nem as políticas, nem qualquer palavra de cotação corrente na ordem social humanista, na ordem social do Ter e do Haver, podem satisfazer a fome de ser de quem a tem. Estamos carregados de bens (e isto não é franciscanismo), queremos ter tudo e não somos , por isso, nada.
Isto não é metafísica. É o que define a fome e a raiva da verdadeira Revolta. É verdadeiramente o que dita a todos os autores do Nada - ao Álvaro de Campos, ao Fernando Pessoa, ao Artaud, ao Beckett, ao Kafka - o Bocejo, o Tédio, a Angústia mortais.
Necessariamente que sim, que conheço e reconheço o alvo a atingir pelo nosso braço e pela nossa revolta. Mas o que desarma essa revolta é ver que os supostos camaradas deveriam afinal ser também alvejados . Esta pátria, este bocado de mundo que a história confinou no nome de Portugal, está arrendado a meia dúzia de proprietários. Também o resto do mundo se pode dizer que é pertença de meia dúzia de poderosos . O alvo é claro: alguns exploram milhões.
É claro que conheço e reconheço isto. É claro que nem lhes posso ter ódio, porque o ódio é ainda uma forma de amor e esses estão para lá do ódio e do amor. Para esses só o escarro, o vómito, um tiro - mas um tiro certeiro. É claro que, se metafísico e obsceno e indeciso sou com o falar de «alma» e de «grandeza de alma», não sou metafísico nem indeciso a respeito dos senhores do mundo: o seu a seu dono, e para esses , toda a pólvora do mundo, nada mais se lhe dariam[?] do que eles deram ao mundo.
Mas no entanto os senhores do mundo não governam sós. Pagam a toda uma Organização que os defende, mantém, oculta e desculpa. A toda uma organização onde até nem faltam filósofos, onde até nem faltam técnicos, onde até nem faltam artistas e escritores; filósofos, técnicos e artistas do Ser, que, por isso, me não interessam enquanto filósofos, enquanto técnicos, enquanto artistas mas apenas enquanto homens.
Eis o que tu ouviste de mim sob o nome de «homem essencial», isto é, os homens que , para lá de todos os atributos acidentais do ter e do haver, se consagram a ser. Eis porque esfomeadamente e revolucionariamente os procuro. Eis porque me impacienta ver, inclusive nos companheiros revolucionários, apenas e sempre a mentalidade do ter e do haver, a propriedade privada em todos os campos.
Não é negativa a minha raiva nem corrosivo o meu veneno. É apenas dor, dor de chafurdar neste deserto e não ver luz, nos olhos dos que mais obrigação tinham de a dar ao mundo.
Não forço os meus amigos e inimigos a nada. Nem sou inimigo de ninguém, porque não procuro rebaixá-los, liquidá-los, vencê-los. Procuro ajudá-los para que me ajudem a sair deste poço de merda e de mediocridade e de mentira.
Chama-lhe poesia e porque não? Mas o nome não interessa. Não interessam nomes para quem procura tudo. E tudo, tudo o que exijo é tão pouco, tão simples! Apenas que os «homens» com aspas, depois de servirem todos os senhores, arranquem as máscaras e fiquem homens sem aspas, nasçam de si próprios.
Os meus ataques parecem provir sempre de um incurável ressentimento, talvez porque não tenho eu nada do que os faz «grandes»: sabedoria, dinheiro, inteligência, talento técnico, dons artísticos, influência, profissão, classe, lugar, celebridade.
Mas vê tu que não é ressentimento: é antes o desejo apaixonado de os ver livres de toda essa canga, de os ver livres de tanto ter e haver, até que consigam ser. Inexplicavelmente, ter alma era o que todos podiam ter (ao ter alma chama-se afinal ser), porque não depende das várias heranças que lhe cabedam em sorte, das influências que conquistam ou das vitórias que ganham (fazem) inexplicavelmente, o mais simples (tão simples que é ridículo insistir nisto) é o mais acessível, é o mais raro. E que raro! E que raro um homem, meu caro
Não nos iludamos com as nossa fantochadas para os outros e as dos outros para nós. Não nos iludamos. Decorámos todas as teorias, temos no bolso a chave de todas as revoluções, arrotamos toda a civilização que se acumulou, acumula e acumulará. Mas um homem - onde está um homem? No meio de tanta gente revolucionária, técnica, talentosa, sábia, onde está um homem? Onde está o coração inteligente, a inteligência emotiva e apaixonada, essa ternura viril, essa virilidade comovida - essa tão pobre, tão rara coisa que é um homem?
É claro também: se a caridade bem entendida começa por nós - e se é sobre mim próprio que descarrego a maior dose de veneno, sempre que sucumbo à filosofia do ter - é também aos que considero meus mais próximos que menos posso perdoar e sobre quem descarrego maior percentagem de ácido.
Afinal não me posso sentir acima das minha ninharias que são toda a corrupta jovem literatura e todos os corruptos jovens literatos. É porque mais os amo que mais impiedosamente os ataco. Quereria ser indiferente a essa incrível república das reputações literárias, mas indiferença, aí, já era desumanismo e desumanidade, já era traição ao que procuro - sabendo que o procuro - e os outros procuram, sem saber que procuram.
Calmamante, insidiosamente, podia dedicar-me aos meus versinhos e ir colaborando na glorieta, minha e dos outros. Mas a glória para que estamos aqui será a gloriazinha das artes e das letras? O que ambicionamos será macaquearmos cada vez mais o homem ou humanizarmos o macaco?

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LEITURAS AC 1960

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DE AC PARA M.L.

Tavira, 18/12/1960 - Estou lendo um livro vertiginosamente novo - «Le Matin des Magiciens», de Louis Pauwels e Jacques Bergier. Trata-se de uma introdução ao realismo fantástico». Custa 120$ e é da gallimard. É uma tentativa de síntese entre aquilo a que chamo esotérico e o exotérico.
*
Tavira, 24/4/1961
A um Jovem Poeta: A quem está a tempo de escolher, apenas dou um conselho de amigo: que fuja, que prefira viver, antes que a vida o mate, dia a dia, lentamente. Que viva, quem pode viver. Mas se a poesia falar mais alto, então só uma palavra: que deus o proteja, querido Poeta!

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LIXO AC 1957

1-13393 caracteres - evª-57>publicad>domingo, 22 de Maio de 2005-> com os parêntesis rectos de auto-crítica, este texto é bastante significativo das distâncias que o tempo cria entre uma idade e outra idade da gente

6-3-1992

DA MENORIDADE À MAIORIDADE E VICE-VERSA

[ Como posso ter escrito tantos lugares-comuns? Trata-se ainda por cima de um texto publicado: E que raio de livro do Fidelino eu dizia que lessem nesta péssima imitação de António Sérgio moralista?]

Évora, 25 de Agosto de 1957 - Da Menoridade à Maioridade - É a altura de pedir à juventude culta que leia Fidelino de Figueiredo. Que o leia, agora e a propósito de acontecimentos recentes, em que mostrou tão insuficiente bojo moral para assinalar e julgar os actos dos outros [ alusão às críticas que me foram feitas por causa do jornal 57?]
Que o leia e paire à sua altura. Só aí [?] , à altura das ideias não transformadas em lacaios dos nosso inconfessáveis melindres, fraquezas e desabafos, vale a pena discutir. No plano em que muitos jovens intelectuais se opuseram [ os do Porto?] não é possível nenhuma conversa, quanto mais um entendimento.
Julgo que falta à maioria dos nossos poetas, escritores e artistas jovens [ sergianismo de terceira classe], além de uma cultura artística [ ? > que muitos se gabam de ostentar, uma cultura humanística que os integre numa mesma órbita [ ?] e numa mesma linguagem, sem o que será vã qualquer posição [ estilo prédica de púlpito] das que arrogantemente assumem quando os factos os obrigam, na sua torrente, a intervir, sem que, antes e depois desses actos, nada haja ou venha a haver pensado, escrito ou feito que demonstre algo mais do que os inveterados hábitos de preguiça mental [ nomenclatura impossível].
Todos somos livres de julgar o próximo [vulgaridade] e se há alguma luta preliminar que estejamos dispostos a manter [ em «nós» porquê?], contra tudo e todos, ela é o diálogo entre os homens; mas julgá-lo, com certo rigor crítico e minúcia na condenação [?] Nada de processos abreviados e de julgamentos sumários [ até que enfim uma frase que se pode ler].
Quando se corta relações com alguém, porque o achamos indigno da nossa camaradagem e em nome da liberdade o fazemos, muito estranho é que, na mesma carta, expressamente se determine que não se peçam explicações. O severo julgamento que definimos com a nossa decisão, tomada em inteira liberdade e em nome dela, o coarctamos logo a seguir. Pedia, por isso, a todos os que tão velozes, suspicazes e expeditos foram na condenação, no doesto e até na injúria, que reflictam, antes das pedradas, que leiam Fidelino de Figueiredo; que graduem e afiram a lupa judicativa segundo princípios morais que a inteligência ilumine e inspire; que distingam as grandes coordenadas do espírito humano e não as baralhem: o especulativo, a acção e o prático. .
Deus deu-nos liberdade [ ?] a todos os animais da criação; até às perdizes, às rãs, aos gatos e aos das letras e das artes que, com a desculpa da pedra filosofal, que nunca mais topam, ficam em menoridade mental e humana toda a vida.
Não vamos derimir pleitos de ideias com pedradas nem a cuspo como os gaiatos: Que isto é muito difícil de ver pelos epicuristas das nossas letras, que troçam de S. Francisco de Assis [ quem troçou?] e embora se digam insurrectos vão indo conforme convém, também não há dúvidas. Mas vamos ficar por isso à espera, uma vida inteira, à espera que cresçam?■