SILÊNCIOS 1991
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PARA UM MANIFESTO MULTIMÉDIA
14/5/1992 - Interface (#) importante para os textos aqui citados é tudo o que já ficou teclado in file «plurimed» de directório
Destacando-se do magma geral do diário, este conjunto de textos poderá ficar na primeira linha para mais um caderno da colecção «Notícias da Clandestinidade», ainda na oficina de Magalhães.
Outro interface(#) importante dos textos aqui enunciados é o das Memórias AC, de que também constituem um destaque de certa importância e dimensão (incluem-se textos sobre a experiência de ser jornalista «outsider» e «franco-atirador», especialmente no campo das lutas desinteresseiras mas interessantes.)
1988-1989
Durante o ano de 1989, o tema dos «média» surgiu frequentes vezes no diário ac, podendo constituir esses textos uma base para a elaboração de um manifesto multimédia em que, segundo se diz no frontespício, «um grupo de intelectuais independentes toma posição relativamente à futura atribuição de canais privados de televisão.»
Nessas páginas, diversamente datadas, correm-se temas tais como:
-O neo-cinismo da «nova imprensa» (modelo:«O Independente») ou a chamada mentalidade vídeo-clip
-Detectando o cinismo que hoje vende bem
-Ecodireitos do leitor, ouvinte, telespectador
-O direito de ser informado
-Uma manhã a telefonar para a Direcção Geral dos Cuidados de Saúde Primários ( ver diário geral, 13/8/1984)
-Com a verdade me enganas ( ver diário geral, 27/10/1989)
-Mensagem de intelectuais independentes ao grupo multimédia que os quiser ouvir (duas páginas de 1989)
-Carta a todos os industriais do ramo - O plano de Informação ecológica que ninguém quis (1989)
-O jornalista face aos temas-tabu e proibidos = Os temas ainda mais explosivos da Ecologia Humana
-O maternal-paternalismo é indissociável do diário quotidiano(10/11/198?)
O discurso em «eu» de quase todos estes textos torna-os mais indicados para um «testemunho ac» sobre a sua própria profissão de jornalista do que para um Manifesto, que necessitaria maior distanciamento e objectividade.
Acresce que muitas dessas páginas foram escritas na perspectiva do «lutador» pela causa holística e de ecologia humana, durante as várias investidas que ac efectuou para «vender» a ideia de uma agência de informação ecológica.
Estes textos - escritos, na sua maioria, em 1988 e 1989 - ficarão, portanto, ordenados cronologicamente. Desse dossiê «militante» e umbilicalmente ligado ao «diário», poderão aproveitar-se para o Manifesto Multimédia algumas passagens.
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1-1- media-2- marco26&- diario91- os silêncios que falam - contributo às «reflexões sobre a crise»
AS CENSURAS COMO CONCEITO ALARGADO
Lisboa, 26/3/1991 - Em directo ou em diferido, há dias, desde que se iniciaram as hostilidades no Golfo pérsico, que ouvimos a retórica alegadamente libertária sobre a censura à notícia de guerra. E são muitos a queixar-se, sem que haja censura, o que pode levar a desconfiar da fartura.
Mas se nos distanciamos um pouco dessa súbita retórica em louvor da liberdade noticiosa e recuarmos no tempo, até ao primeiro choque petrolífero, em 1973-74, começamos a compreender que a famosa liberdade noticiosa do jornalismo é conforme as circunstâncias e as conveniências, extremamente elástica. Tal como a democracia.
Verificamos, por exemplo, que em Portugal e logo após o choque petrolífero do 25 de Abril, foram ficando, pelo caminho, silêncios e silenciamentos que nunca ninguém denunciou, em nome da liberdade de expressão de pensamento. Na minha modesta perspectiva, os silêncios e silenciamentos mais pesados verificaram-se sobre aquelas iniciativas, tecnologias, energias, acções, actividades, indústrias, ideias, movimentos, etc., etc., que traziam ou defendiam as tecnologias democráticas e efectivamente libertadoras ou apropriadas.
[São tão numerosos os silêncios e silenciamentos operados pela democracia formal sobre as tecnologias democráticas, que se torna impossível enumerá-los todos. Mas, para que se faça um dia o inventário das ta's (tecnologias apropriadas), que, desde 1974, se impunham como antídotos das guerras, das crises, das ditaduras e dos totalitarismos, tentemos lembrar algumas e alguns , como exemplo:]
(...)
A censura imediata à notícia em directo é um dos atentados ao direito de informar. Mas também é um atentado ao direito de informar, calar as alternativas que podiam, se desenvolvidas e levadas à sua máxima expressão, ter evitado a guerra, obliterando o estrangulamento a que o sistema em geral e o sistema energético em particular tende a submeter as democracias. Porque -- há que repeti-lo -- esta guerra, que dura há semanas, começou em Setembro de 1973, com o chamado primeiro grande choque petrolífero. Durante estes anos há os que trabalharam no sentido da paz - que é o das iniciativas alternativas e tecnologias de paz, as artes de viver -- e há os que se renderam à lógica de guerra -- que é a submissão e subordinação à monodependência de uma única fonte energética -- proibindo, portanto, o desenvolvimento das múltiplas saídas para a crise.
Porque não falar aí de censura, de silêncios e silenciamentos?
Será que o sistema precisa mesmo de crises para se manter? De muitos mortos -- no terreno -- para sobreviver?
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QUEM, QUEM, QUEM?
Lisboa, 29/9/1991 - Quem ateia ou manda atear os fogos de Verão?
Quem quer salvar a Amazónia?
Quem lança interferências nas ondas e nos canais de televisão?
Quem convida os jornalistas a fazer reportagens no Peru, na Colômbia e em Nova Iorque?
Quem dá as informações sobre assuntos em segredo de justiça?
Quem controla a publicidade de automóveis e de cosmética nas grandes revistas em papel couché?
Quem acciona as campanhas publicitárias a favor de certos filmes como «Um Mar de Fogo» e «O Silêncio dos Inocentes»?
Quem afoga cinematografias e cineastas que se encontram fora dos circuitos de produção e distribuição norte-americanos?
Quem? +
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VIVA LA MUERTE
Lisboa, 6/4/1991 - Se algum dia, para bem da Pátria e da economia, for necessário demolir os Jerónimos, ocupar o Rossio de buldozzers, plantar um milhão de eucaliptos no Saldanha, incendiar de novo o Chiado, (...), tenhamos a certeza de que tudo se fará na melhor ordem, em silêncio, com uma notícia discreta, se tanto, dada nos jornais, o encolher de ombros indignado das oposições, o risinho trocista dos ecologistas de serviço, o empenhamento reflexivo e ensaístico dos nossos melhores intelectuais e arquitectos, enfim, com os constitucionalistas a garantir que tudo é constitucional, que a destruição é legal e portanto legítima, que a destruição é estetica e eticamente necessária, que a destruição é providencial, que a destruição é o primeiro passo para uma reconstrução saudável, rentável, maleável.
Tenhamos fé, homens de Deus e de Alá: a construção civil sempre se fez sobre os ossos, a pele, o sangue, os cadáveres dos civis.
A reconstrução sempre foi o outro lado dialéctico da destruição.
Viva a destruição.
Viva la muerte.
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O SISTEMA QUE VIVE DE IR MATANDO OS ECOSSISTEMAS
Lisboa, 1991 - O sistema existe para gerir o desperdício, pois dele vive. Mas há, durante o ano, um Dia Mundial da Poupança, em que o sistema manda os jornalistas escrever comoventes elogios da poupança.
O sistema vive de gerir a Doença, porque a doença dá inenarráveis lucros às Indústrias, porque reproduz em cadeia mil outras indústrias, mas, uma vez no ano, festeja, com estrondo, o Dia Mundial da Saúde.
O sistema vive de gerir a Pobreza e a Miséria, mas não há nenhum político, em campanha eleitoral, que não prometa ir combater a Pobreza e a Miséria: se de facto acabassem com elas, o que é que iriam prometer nas próximas eleições?
O sistema vive de gerir o Desemprego, porque se recusa a diminuir horas de trabalho, porque se recusa a dar mais férias e reformas mais cedo, porque se recusa a humanizar o trabalho. Mas, uma vez no ano, assinala o Dia Mundial do Trabalho.
O sistema vive de desperdiçar, mas defende todos os crimes e alienações e opressões em nome da «batalha da produção».
O sistema vive de gerir o Ódio, como se pode ver por todo o romanesco das séries televisivas ou de 99,9% da produção cinematográfica norte-americana, mas de repente é capaz de criar, uma vez no ano, o Dia Mundial do Amor, conforme aos melhores preceitos do Evangelho.
O sistema vive de incentivar o Bairro da Lata, as periferias, os excluídos do Banquete, mas, todos os anos, celebra o Dia Mundial dos Direitos do Homem.
O sistema vive de explorar a Mulher, mas assinala o Dia Mundial da Mulher, tanto como o da Terceira Idade ou o da Criança.
O sistema vive da destruição do Mar, atirando ao Oceano tudo o que é produto químico e radioactivo, cargueiros são afundados propositadamente com cargas tóxicas e perigosas, mas, uma vez no ano, ele canta o Dia Mundial do Mar, e possivelmente entoa um requiem às valentes Baleias e aos inteligentes Golfinhos.
O sistema vive de gerir a mais implacável mania da Competição e da Inveja social (em que assenta a luta e a dialéctica de classes), mas depois é capaz de vir um M. S., encomendado pelo sistema, a proclamar que a Solidariedade é uma coisa nova e porreiríssima e que faz um bem enorme à Constipação.
O sistema vive de gerir a Desconfiança, com filmes e serviços de espionagem espalhados por todos os serviços, mas depois é capaz de mandar o escriba de serviço tecer loas heróicas à Confiança, às virtudes da sinceridade, da honestidade, da verticalidade, da inteireza de carácter.
O sistema vive de gerir a Opressão, mas depois invoca a Liberdade de Expressão de Pensamento e, mais uma vez, é capaz de invocar a Carta Universal dos Direitos do Homem.
O sistema vive de incentivar a Caça a todas as espécies animais, nomeadamente as que dão lucros internacionais, como o Elefante ou a Baleia, mas vai com certeza patrocinar, com o mecenato das companhias industriais, um Dia de Amor aos Animais, que os jornais, sempre atentos, veneradores e obrigados, ilustram a cores.
O sistema vive de ir matando os ecossistemas, mas todos os servidores impenitentes do sistema, jornalistas e arredores, dão a vida pela Vida, pela Natureza e pelo Ambiente, no Dia Mundial do Ambiente, em favor dos animais, das plantas e dos rios.
O sistema vive de ir pilhando, destruindo e poluindo o Planeta Terra, a que já nem falta a Antártida, um dos últimos redutos, mas de repente vira defensor da Terra, do Planeta, dos Recursos Naturais.
O sistema vive de incentivar o Cancro -- todo o ambiente hoje é cancerígeno, com os índices crescentes de poluição química e radioactiva -- mas depois diz que está investigando uma nova vacina...contra o Cancro.
O sistema vive de incentivar a Imunodeficiência ( e a imunodepressão, ou imunosupressão) mas depois inventa a SIDA, causada por um vírus que vem da África e dos Macacos Verdes...
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