sexta-feira, fevereiro 01, 2008

AFINAL QUEM SOMOS?

1-2-oxigenio- inédito ac de 1992 – notas de leitura – página de 5 estrelas

ONDE ESTÁ O OXIGÉNIO DO UNIVERSO HUMANO?

Talvez sejamos apenas os próprios extra-terrestres

Lisboa, 27/2/1992 - Todos procuram saber o que é o oxigénio do espírito, aquele elemento simples e eterno e coerente e sem fissuras do qual toda a nossa vida psíquica depende. E cada um encontrou entidades, quem sabe se arquétipos, quem sabe se paradigmas quem sabe se quintessências, que podem candidatar-se a esse papel.
Na Fadiga encontrou Peter Handke o princípio universal
No Jogo viu Huizinga o Todo
Na Dialéctica sonhou Marx conter-se o universo
Na interdependência pensam estar os ecólogos a quintessência
Na Crítica acreditam outros, na Matemática, na Lógica e suas categorias perfeitas
No Amor viram os místicos do Amor a última Ratio
Na Estrutura viram os estruturalistas Tudo, enquanto outros o viram no Tempo e os mais antigos na Água e os contemporâneos no Ar
No Meio Ambiente está (quase) tudo, dizem outros e de acordo com um budismo naif ou zen, no Vazio pleno ou no Pleno Vazio é que está o Busílis
Na Dor Humana como absoluto acreditam os pessimistas, os realistas como Gautama Buda, acreditou Pascoaes, que hesitou entre a Saudade do futuro e a Saudade do passado como a categoria vectorial do Absoluto
Outros mais levianos não hesitaram e queimaram a palavra de todas as palavras: deus, enquanto os mais modestos e terra a terra falaram de Yoga ou mera religação-religião
A Inveja Social e a Luta de Classes foi para os marxistas e nem só o motor da História, quando se acreditava que a história era motorizada
Deificada, a Pobreza - nomeadamente se atinge o estágio da Miséria - pode bem ser o Absoluto num mundo relativo
Os surrealistas em geral descobriram o Humor e o André Breton em particular o Humor Negro, alfa e ómega da Imaginação Criadora, essa estrela de cinco pontas
Os gregos da época clássica não estiveram com meias medidas e inventaram logo quatro nomes para deus: «Mythos», «Logos», «Ethos» e «Eros», este acrescido posteriormente, via Freud, do Tanatos
Na ordem física, a simbologia do Sol tem querido servir de ersatz a Deus e quase o conseguiu, mesmo quando Hitler retorceu a ponta da suástica
Liberdade, «cor de homem» para Breton e Éluard, surge eventual e anarquicamente como porta-estandarte do Todo que falta ao Nada que é o Homem
O Verbo foi Deus nos textos do Velho testamento [ ???] e se anda hoje, em plena «manipulação do homem pelo homem», pelas ruas da amargura não é porque se tenham esquecido dele mas porque se lembram dele demasiado os que professam a religião que diz: «manipulai-vos uns aos outros»
Dos românticos aos ultraromânticos e decadentistas, esteve em moda a Poesia ascender ao podium do Absoluto e o Vate a Profeta de todos os tempos: ainda não se sabe, com tanta poeira metafísica, se a poesia foi afinal tanto como os críticos disseram depois do que (des)fizeram
Karma vem desde o princípio dos tempos como o princípio universal por excelência e a sua actualidade confirma-se quando, com o novo conceito de entropia, alguns começam a percer que «tudo é energia» e que não outra moral, nem outra ética, nem outra lógica, nem outro referencial axiológico: percebeu-se o valor kármico da Entropia quando algumas correntes contemporâneas detectaram no Desperdício o vectoer central de todo um Modelo de Civilização, que suga aos Pobres para dar aos Ricos
Na Violência os sociólogos encontram o que Nietzsche encontrou na Vontade de Poder
No tédio e no stress encontrei eu a minha metafísica mas também outros suicidas e eternos chatiados
No Doping e na Droga encontrou o alucinado Burroughs, o que outros encontraram no Aleatório -- buraco negro do universo humano
Na Metáfora e no Símbolo viram os artistas o seu quinto Céu, o motor universal e por isso Erich Fromm lhe chamou a linguagem esquecida

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