terça-feira, janeiro 22, 2008

MY LIFE 1977

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12/4/1977 [ ?]

Iniciação à iniciação

A ENTREVISTA QUE FIZ AO LAMA KUNZANG DORJE

CARTAS DE AFONSO CAUTELA A F.P.D.

F.P.D. : Seguem as primeiras quatro páginas com o material que retirei do gravador. Trabalho bastante bom para mortificar o ego e ganhar o céu. Com a minha dificuldade em perceber o francês, o afastamento em que o Mestre se encontrava do gravador e algumas (muitas) palavras completamente ininteligíveis ao meu nível de ouvido, eis que não é brilhante o primeiro resultado que te apresento para transcrição textual da entrevista com o Mestre. Espero que me ajudarás a decifrar algumas das interrogações, palavras que não consigo de todo perceber quais são. De resto, o trabalho desta obrigação de reproduzir textualmente as declarações do Mestre, vai adiantado e já daria para vários livros. Terei que reduzi-lo, uma espécie de ajuste de contas comigo próprio, meus fantasmas, mitos, erros, enganos, sonhos, ideais, etc.. Escrever este livro é um pouco escrever a súmula, a autocrítica, a confissão de uma (revira) volta e de uma subversão interior há muito chocada em silêncio ou no meio do Barulho. O que me preocupa, portanto, de ter em ordem, é a entrevista com o Mestre. Seguir-se-ão mais algumas páginas, logo que tenhas essas emendadas, devolve. Agradeço também que emendes os erros de francês em que não sou, como calculas, nada forte nem entendido. E não há tempo de consultar o dicionário para tirar algumas dúvidas de ortografia a limpo. De caminho, ajudarás. Até breve.

[Ainda em 1977]

F.P.D. : Como deves lembrar-te, nunca ficou bem definido em que termos seria publicada a entrevista com o Lama. Pela tua primeira sugestão pensei haver, em Bruxelas, deliberada intenção e possibilidade material de a editar mesmo. Em Nyima Zong verifiquei que essa possibilidade estava antes condicionada por uma primeira edição em português. Acontece que, em Portugal, a minha influência junto de editores é nula e nula (por enquanto...) a possibilidade de alguém entender o interesse ou necessidade de publicar tal entrevista. Tentando ler toda esta trama de circunstâncias, será ainda cedo para tal projecto? Será ainda cedo para um centro Nyingma em Lisboa? Será ainda cedo para um ramo da Comunidade em Portugal? Estas e outras perguntas me tenho feito com frequência desde que o Lama esteve em Portugal. Qual o momento exacto das coisas acontecerem? Qual o momento exacto de lançar mãos à obra? Não ponho tanto a questão de sentir ou não necessidade - claro que sim! - de publicar a entrevista com o Lama, de publicar a tradução portuguesa da tua «Celebração dos Tantras», de publicar mesmo o livro que escrevi depois de Nyima Zong, etc. - mas a questão de saber se é o momento disto ou daquilo acontecer. Necessidade de escrever evidentemente que tenho. Como de respirar. E de escrever, agora, polarizado pela Comunidade. Mas a necessidade é a voz do ego... e o que tem a ver a realidade objectiva com os enganos do nosso Ego? Estarão, enfim, reunidas aqui as condições? Para quê? Como sabê-lo? Tateio. A Livraria é um buraco escuro, depois de tantos buracos e esgotos escuros. Sinto-me nela um rato tentando saber de onde vem a Luz. Sei (julgo saber) que vem de um pólo, que esse pólo é Nyima Zong, o Lama, tu, a Comunidade, etc.. As dúvidas, porém, abafam a maior parte das vezes qualquer certeza. A Livraria situa-se bastante ao nível da valeta: e rima com o (meu) crónico estado depressivo. Não sei de outra constante na mutabilidade dos factos: a chatice de aqui estar é essa constante: e talvez por isso viva em pecado mortal. Recapitulando: a tua «Celebração dos Tantras», os teus poemas, a entrevista com o Lama e - já agora! - os «ensaios de aproximação à luz» que são muitos dos meus últimos textos feitos sob a atracção magnética da comunidade, ficam agora no mesmo pé de prioridades. Aguardo, farejo, estou atento, procuro interpretar... É possível que surja uma hipótese de eu próprio virar editor. Escusado dizer-te o que iria (vou) editar nessa altura. Se o destino assim quiser, é como editor que irei a Paris (antes de 19 de Fevereiro...) e contigo elaborar um projecto de edições nossas. Uma colecção para informar da Tradição em Língua Portuguesa. Caso seja isso que o Destino quer...cumprir-se-á. Caso seja isso o que está previsto e predeterminado - cumprir-se-á. Caso não estejamos antepondo os nossos egos à efectiva necessidade do que tem de acontecer - cumprir-se-á. Caso a leitura que neste momento julgo fazer da realidade não seja muito pitosga - cumprir-se-á.
AC
Post scriptum: de concursos literários, nada existe neste momento e da Gulbenkian nem me lembro de algum dia ela ter-se lembrado disso. Caso entretanto haja alguma coisa, evidentemente que te manterei informado. Aliás, se não envio mais informações daqui é porque penso não ser oportuno ensombrar teus dias com as tristezas à beira mar deste país triste, triste. triste...

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ESPÓLIO AC 2002

02-10-18-NB-SW>antes de rasgar>

18-10-2002

+ TÍTULOS AC QUE FORAM FICANDO PELAS PASTAS:

ENTREVISTAS AC - CONFIRMATIVOS PUBLICADOS
ENTREVISTAS QUE ELE NÃO DEU
DECLARAÇÕES DE AC PUBLICADAS EM JORNAIS
ENTREVISTAS QUE ELE DEU - DOCUMENTOS ORIGINAIS COM (ALGUMAS FOTOCÓPIAS)
ENTREVISTAS QUE ELE DEU - CRÍTICA / POESIA/LITERATURA/CINEMA - 1960, 71, 72 E 73

[ver organigrama ac]

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ESPÓLIO AC 2000

reinaldo2> germinal>

COSMOBIOLOGIA DE ETIENNE GUILLÉ

R. B., Meu Prezado Amigo:

Lisboa, 26/9/2000 - Aproveito esta carta para te falar de um assunto que há muito queria transmitir-te. É o meu único problema, actualmente: encontrar destinatário para o testamento «espiritual» em que ocupo agora as minhas 24 horas diárias. Ou seja: o meu grande problema é ter em casa (sem espaço para o ter) um espólio de livros, videocassetes e audio-cassetes, documentos e dossiês com quilos de informação seleccionada, espólio que julgo relativamente valioso e não saber a quem o dar, como e quando. Ou seja: o meu problema é não ter nada para vender...
Não tenho nenhuma pressa mas, atendendo aos meus 67 anos de idade, tenho alguma urgência...Neste momento e para ser franco, estou em fase de me retirar, de me despedir e de arrumar a bagagem, ou, dito de outra maneira, estou mais à procura de saber como morrer bem, tranquilo e em paz comigo e com os outros, mais do que em bem viver. É o que os contabilistas chamam regime de inventário e liquidação.
Acho que já te falei da Cosmobiologia de Etienne Guillé e do tesouro que a gnose vibratória representou para mim, só não te disse da principal dificuldade que tenho, neste momento, e que é a de como e a quem deixar o que recebi. Tenho o testamento (espiritual...) redigido, mas ainda não acertei no destinatário: o «tesouro» consiste em 5 dezenas de livros (bibliografia adjacente aos 4 volumes de Etienne Guillé), 5 dezenas de audiocassetes gravadas com os seminários a que assisti (cerca de 25), centenas de páginas de apontamentos e outras tantas páginas com textos que traduzi do francês, já que, em português, existe apenas editado um opúsculo do Jean Noel Kerviel, que eu traduzi e o Manuel Fernandes (o radiestesista português mais afortunado ) publicou. Além, é claro, de uma centena de acetatos com os diagramas básicos do método de Etienne e que largamente utilizei na vintena e meia de encontros de estudo que realizei na Sociedade Portuguesa de Naturologia, na Espiral e na Escola Superior de Biologia e Saúde.
Estou certo de que a pesquisa ortomolecular (de que o trabalho de Etienne representa a linha da frente) será a medicina do próximo futuro e é isso que minimamente me preocupa: que este pequeno contributo que eu tive a sorte de poder reunir, não se perca. As novas gerações vão precisar dele, como de pão para a boca.
Quer dizer: a minha principal dificuldade, neste momento, consiste em dar e a quem, já que não tenho nada para vender.
Logo que possas e tenhas uns minutos disponíveis, gostava de te explicar melhor este meu projecto e o projecto complementar de que te envio também uma notícia sucinta. Fica com o meu número de telefone, pois só dentro de algumas semanas estarei ligado à Internet, operação a que tenho resistido até aos limites do (im) possível.
Dados os meus 67 anos, não tenho pressa mas apenas alguma urgência...

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