quarta-feira, janeiro 23, 2008

MY LIFE EM 1999

1-2 - 70anos>

7-9-1999

CENAS (EVENTUALMENTE CHOCANTES) NA AR
OBRIGAM-NOS A VER (E A PAGAR) O ESPECTÁCULO QUE ELES DÃO

[Não imagino de quando (de que data) poderá ser, exactamante, este texto inédito sobre a Assembleia da República , mas até deve ser bastante anterior ao escândalo máximo e à máxima afronta que foi o auto-aumento dos deputados, comentado em página de diário de 1989.
Este texto é do tempo em que a palavra cidadão - os direitos ecológicos do cidadão... - andava muito na minha linguagem. Ainda estava longe o ser humano pós-radiestesia ou o «todos os seres» do budismo Nyngma. A expressão «maioria silenciosa» leva a pensar numa data muito próxima do 25 de Abril, em que a tal maioria silenciosa foi muito falada . Também a «democracia directa» versus «democracia parlamentar» faz lembrar o auge do PREC (processo revolucionário em curso) (2/Setembro/1999)]


Anos 70 - Aberta a janela (indiscreta) da TV para o que se passa nessa «casa de horrores» que é a Assembleia da República (outrora Assembleia Nacional), eis o cidadão da maioria silenciosa enterrado no fauteil da sua displicência, a roer as unhas de nervoso, humilhado e ofendido com quanto ouve, quanto vê, quanto julga estar a sonhar.
E se de todo em todo ainda não capou a capacidade crítica de uma República que não é das Arábias, vai congeminando, reflectindo, concluindo coisas totalmente à margem desse «tumor».
O seu amor próprio é o primeiro a sentir-se tocado (chocado) : aliás, no amor próprio radica boa parte do espectáculo degradante que são os partidos arrepelando os cabelos uns aos outros - enquanto a malta vai pagando impostos.
O cidadão comum sente-se chocado no seu amor próprio por estarem a falar em nome dele e tudo aquilo - que não lhe diz respeito - se sentir «legitimado» pela conversa do líder A, B ou Z, adrede encomendada para ali representar a rábula do Partido A, B ou Z.
Além de vexado, o cidadão sente-se insultado: na sua inteligência e nas suas necessidades. Nos seus reais interesses.
E vê então o abismo que separa a democracia directa da indirecta democracia parlamentar.
Mas mais: vê que a realidade não deixou de estar em movimento (por muito pantanoso que tivesse sido tudo isto) enquanto os discurso da A.R. , como se estivessem a ser reproduzidos num fonógrafo do princípio do século, reproduzem ecos de ecos de coisas já (ultra)passadas senão mesmo mortas.
Esta impressão de fantasmagoria persegue o nosso bisbilhoteiro olhar sobre essa casa. Os oradores invocam pontos de honra, tecem conceitos de moral política, sabem tudo sobre o bem e o mal, mas a vida, a realidade, o país, que não pode parar em paisagens românticas do século XIX , nem enquistar-se em matéria de catecismo , continua, bem ou mal, a mexer-se, a vibrar, a mover-se, a viver...
Entre esta vida que não para - mesmo que a matem - e o ambiente de estufa que vemos no janeloco da TV em dia de transmissão directa - o cidadão pergunta que relação haverá.
O cidadão acredita no regime dos partidos.
É realista e sabe que os partidos são um mal necessário.
Mas também vê , percebe, intui que os partidos têm de ser reformados.
E já.

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