sexta-feira, fevereiro 22, 2013

FRITJOF CAPRA: ENTRE DOIS PARADIGMAS


1-6 quinta-feira, 6 de Novembro de 2003 - caos-1-nucleo12-acetatos – frontespícios – autoterapia – da epistemologia à naturologia – em demanda do novo paradigma


                                               O CAOS DOS CIENTISTAS

19-8-1996

Ao analisar, a ciência profana reduz e, portanto, mata.
O holístico, o global, o sistémico, o total não resiste à sistemática fragmentação a que a ciência analítica o submete. À fragmentação do Todo em partes separadas. Especialmente se é do universo humano que falamos.
O que separa jamais volta a unir o que separou, por mais que diga o contrário.
A abordagem holística coloca problemas de método que a ciência experimental nunca conseguirá ultrapassar.
As boas intenções de Fritjof Capra são pouco mais que boas intenções, embora para o estudioso das ciências sagradas seja lisonjeiro ver um físico atómico a dizer que o taoísmo já tinha pensado o que a física atómica hoje pensa.
Mas o discurso da chamada área quântica diz bem que os dois modos - Analítico e Holístico - são inconciliáveis, irreconciliáveis .
Caos verdadeiro e irreversível é a teoria do caos e todas as teorias surtas no âmbito da área que a ciência designa de quântica.
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87-07-18-ls
 
O DESAFIO DE FRITOJOF CAPRA
INVESTIGAR O FUTURO (*)

[ 18-7-1987, in «A Capital»] - Investigadores, bibliotecários e arquivistas do passado, queixam-se do abandono a que foi votado o património documental do País.
As maiores autoridades no domínio da arquivística pronunciaram-se no colóquio realizado durante a 57.ª Feira do Livro de Lisboa, a respeito da indiferença geral que reina sobre os nossos maiores tesouros documentais, fontes históricas insubstituíveis, sem as quais o País perde a sua memória colectiva e, portanto, a identidade.
Sem as quais o País se desintegra. Após muitos anos em que Estado e governos ignoraram olimpicamente uma parte importante da nossa própria existência como povo e como País (a outra é o território físico) parece agora esboçar--se, com a reorganização da Torre do Tombo, a cuja comissão preside o prof. José Mattoso, uma viragem nesta situação de catástrofe. É possível que ainda vamos a tempo de salvar do dilúvio universal alguns arquivos e documentos importantes.
Encaminhada a recuperação da nossa memória colectiva, com a ajuda da informática, ocorreu-me que não seria talvez gratuito aparecer alguém, entre investigadores, bibliotecários e arquivistas do futuro, a reivindicar também uma acção urgente com o objectivo de não perdermos o nosso sentido de orientação como povo: A Imaginação Criadora, na qual se deve considerar incluída, por definição, a Investigação Cientifica.
Talvez o material de trabalho destes investigadores não se encontre, como o dos outros (os do passado), encaixotado algures num barracão, nem sejam tão nítidas as fronteiras do que importa preservar e salvaguardar para que, diante do apocalipse, a linha de rumo não se perca.
Talvez as balizas que delimitam os arquivos do futuro não sejam tão nítidas (e com certeza não são) como aquelas que definem os arquivos do passado.
Mas isso não retira importância à Historiografia Prospectiva ou Ciência do Futuro, e ao material arquivístico que é necessário coordenar para sistematizar esse novo campo da Ciência.
É que, de repente, tudo o que as ficções mais ou menos científicas tinham colocado num limbo de relativa (in)vero-similhança ou (im)probabilidade, torna-se um facto brutalmente instalado na nossa vida real quotidiana.
Com a crise ecológica e a ameaça de holocausto nuclear, o inverosímil torna-se verosímil e o improvável torna-se provável.
A verdade quase comezinha, quase lapaliciana, é de repente posta sem que muitos tenham tido tempo ainda de a assimilar: pode não haver futuro, o tempo e a história deixaram de poder ser considerados uma realidade inesgotável em expansão infinita.
Ora, se não houver futuro, de nada serve preservar o passado, de nada serve a memória conservada, no Tombo ou algures. Destruído o futuro, eis que o passado é também automaticamente destruído.
Não sei, porém, se esta realidade comezinha já terá tocado verdadeiramente os chamados cérebros responsáveis do nosso tempo, que vemos continuarem agindo como se tivessem a eternidade à sua frente e o apocalipse não estivesse já inscrito, na história dos acontecimentos, como hipótese a considerar. A Hipótese.
Mas para que o fim da história não se torne uma noção paralisante das pessoas e dos povos, tão paralisante como o excesso de passadismo, teremos de cultivar, em primeira prioridade, não só a memória do que foi mas a imaginação do que pode ser.
Sem imaginação eco-alternativa, que nos permita ultrapassar, como espécie humana, o impasse da tecnocracia moderna (que só pode conduzir à autodestruição do Planeta, como a Termodinâmica demonstra de maneira física irrefutável), arriscamo-nos a perder o precioso passado que tantos investigadores, arquivistas e bibliotecários justamente tanto acarinham.
Mesmo que essa tecnocracia se afadigue, por óbvio, a informatizar "up to date", a microfilmar e a reduzir a ficha automática milhões de documentos até agora inacessíveis, talvez convenha não confundir essa actividade com o nosso futuro e sobrevivência.
Por mais que se informatize o passado, terá que se desinformatizar bastante o futuro para que este simplesmente venha a ser possível. Sem a desintoxicação de tecnologia informática e de computadores, o planeta sucumbirá e com ele a humanidade.
Os «arquivistas do futuro», como lhes chamei, descobriram e sentem que a humanidade, finalmente, vive a prazo e que o futuro já não é inesgotável (tal como se descobriu que as grandes massas oceânicas ou a estratosfera ou at-mosfera não eram inesgotáveis).
Tal como um doente incurável, a Humanidade terá de reorganizar o seu espaço em função do tempo que ainda lhe resta.
Arquivistas do futuro são aqueles investigadores que procuram descobrir onde foi o ponto de rotura, onde é que esta «civilização» entre aspas, que traz o rei na barriga e a destruição na alma, errou.
Não há ainda uma editora especializada nesta área temática, a que, à falta de melhor, chamaremos de «novo underground»: mas multiplicam-se os testemunhos e as obras-chave que apontam para a nova consciência planetária de auto-conservação da espécie, campo aberto que poderíamos designar por Ciências Holísticas, quer dizer, as ciências que, embora aprofundando recintos particulares, o fazem sempre em referência ao todo, ao global (do globo terrestre) e ao universal (do universo imenso das galáxias).
Tal como o professor José Mattoso dizia dos arquivos do passado, «é cada vez mais nítida e generalizada a consciência de que os nossos problemas começam estruturalmente muito antes», também o arquivista do futuro poderá declarar: «É cada vez mais nítida e generalizada a consciência de que os nossos problemas começam estruturalmente muito depois de nós."
Sem dúvida que para explicar o presente podemos pedir explicação ao passado. Mas para agir no presente, teremos que pedir explicações ao futuro.
Na medida em que o presente tende a afunilar-se num beco sem saída, não podemos estar entregues exclusivamente a interrogar o passado: antes de explicarmos o que somos, pode ser que deixemos de ser, pura e simplesmente.
Evitá-lo é o objectivo fundamental do pensamento eco-alternativo, apoiado em todas as ciências da área holística ou ciências holísticas, movimento e pensamento estes provocados pelo imperativo categórico da crise ecológica
Se chegámos a ela e à eventualidade de um holocausto, que pode até não ser nuclear, que poderá mesmo ser climático, holocausto que acabaria não só com o presente mas com todos os vestígios do passado, a primeira prioridade de uma cultura não suicida, de um povo não suicida, de uma edição não suicida, é saber o que nos levou a esta crise e como ultrapassar dialecticamente o património ideológico que, através dos séculos, filosofias e sistemas, lá (cá) nos conduziu.
Entre os arquivistas do futuro que sistematizaram as causas passadas destes efeitos críticos, está Fritjof Capra, que podemos hoje apontar como o teorizador e diagnosticador da Doença estrutural chamada Civilização Tecno-Industrial.
É em edição brasileira que o vamos encontrar, nas suas duas obras de fundo: «O Tao da Física» e «O Tempo da Transformação».
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Crónica do Planeta Terra», em 18 de Julho de 1987

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1-3
capra - livros na mão - notas de leitura

UMA HERESIA COM VINTE ANOS
A DANÇA CÓSMICA DE FRITJOF CAPRA (*)

5/8/1990 [ 7-8-1990, in «A Capital» ] - Há livros tão carregados de energia e consequências, que estabelecem à sua volta, após a fase de pânico, uma espécie de vácuo protector, de silêncio tácito, única forma que o sistema de referências e valores tem de se defender contra o implacável desafio que lhe é proposto e que o abala desde os alicerces.
«O Tao da Física», publicado em Londres, em 1975, pelo físico atómico Fritjof Capra - e que a editora Presença teve agora, vinte anos depois, a coragem de lançar em tradução portuguesa - , é um desses livros raros que só pode esperar dos poderes constituídos, nomeadamente da respeitável instituição científica, o vazio do silêncio, o silêncio do vazio (como diria um discípulo de Lao Tsé).
No entanto, cada página, cada parágrafo de «O Tao da Física»(*) - subintitulado «uma exploração dos paralelos entre a física moderna e o misticismo oriental » - suscita questões de tal maneira decisivas, importantes e vertiginosas para o futuro do sistema (que vive de ir matando os ecossistemas) e do próprio planeta Terra, com toda a carga humana a bordo, que se esperaria um debate constante, nos grandes «media», em torno deste explosivo concentrado de teses «revolucionárias», de questões de «alta voltagem energética»
O sistema leva um certo tempo a digerir o que o contesta - é certo - mas, num caso destes, vinte anos decorridos não será tempo demais para hesitarem ainda em dar o prémio Nobel ao físico atómico Fritjof Capra, exorcismando-o assim de todos os malefícios? Seria o suficiente para o neutralizar, darem-lhe uma cátedra na Universidade de Berkeley? Não será uma distracção muito perigosa para o poder científico - que inclui a microfísica no topo das suas glórias, e respectivas bombas termonucleares daí advenientes - não ter ainda conseguido calar este herege, recuperar este filósofo maldito, neutralizar este investigador suspeito de grave heresia, calar, pura e simplesmente calar este autor do diálogo entre a física do Tao e o Tao da física?...
Não serei eu, neste modesto espaço de jornal, a poder quebrar tamanha conspiração de silêncio, e muito menos a poder esgotar o inesgotável manancial de ideias que constitui o livro-manifesto de Capra. Tanto mais que ele, entretanto, já acrescentou, ao seu currículo, outro livro-manifesto, talvez ainda mais explosivo do que este - «Le Temps du Changement», na edição francesa da Rocher(1983) (**) - no qual analisa aquilo a que chama a abordagem «holística» da realidade, indo, neste caso, buscar a palavra «holística» à tradição hermética da Astrologia ... Pior a emenda que o soneto, como se vê.
Um sistema ideológico como o ocidental, tão homogéneo e totalitário na sua inquebrantável tirania, que leva vinte anos a digerir uma tese destas - o paralelismo óbvio entre ciência de ponta e o erradamente chamado «misticismo» oriental (hinduísmo, budismo, pensamento chinês, taoismo e zen, ocupam, em exaustivas descrições, toda a segunda parte da obra) - coloca-se definitivamente em causa, pelo menos quanto à sua capacidade digestiva e metabólica. Por muito duro e redondo que seja o «pedregulho» dado a comer pelo rebelde filósofo inglês, a verdade é que a truculenta instituição científica sempre revelou, para estas coisas, um estupendo estômago, mostrando que tem sabido recuperar quase tudo aquilo que a contesta. Quando não pode calar, compra. E quando não pode comprar, manda perseguir, até que o autor seja «calado»(enjaulado num «gulag» psiquiátrico, por exemplo). Os poucos investigadores que escaparam a esta lei da «linchagem» - como é o caso, por exemplo, de Ivan Illich, que continua a constituir a maior carga subversiva que alguma vez o sistema teve de suportar - , vivem como autores de livros uma existência larvar, na semi-clandestinidade.
Capra parece-me gozar desse estatuto privilegiado: a seu respeito continua a manter-se um «muro de silêncio», muro que só a sua outra qualidade, de especialista na área da microfísica nuclear, impede que seja tão espesso e intransponível.
«O Tao da Física» está aí, em tradução portuguesa, (bastante correcta, diga-se de passagem, nos pontos nevrálgicos), sujeito a todas as contingências do marketing editorial, que tanto promove como derruba, conforme a «conjuntura. Aí está «O Tao da Física», silenciado mas capaz das mil leituras e das mil discussões que os espíritos livres dos investigadores independentes (se é que ainda os há) teriam o maior gozo, prazer e empenho em realizar. O resto não é com Capra. É pura e simplesmente connosco e com o nosso senso mínimo da dignidade intelectual.

CLARIDADE CARTESIANA

De uma claridade cartesiana, o discurso de Fritjof Capra ilustra racionalmente a realidade. Mas não conclui que todo o real é racional e que todo o racional é real, como fizeram hegelianos e neo-hegelianos das últimas fornadas na filosofia ocidental. Capra aceitou o desafio daquilo a que chama, de forma um tanto abusiva e simplista, as «místicas» orientais, e postula zonas do real que se espraiam, como um oceano de ritmos, para lá das praias amenas que a ciência estuda, para lá das baias limitativas e simplórias do racionalismo cartesiano, do idealismo hegeliano e «tutti quanti». Quer o Zen quer o Tao, são exactamente o contrário da mística e da metafísica, e mesmo o seu melhor e único antídoto.
No prefácio da primeira edição, o autor confessa, de forma quase lírica, como a intuição dessa realidade profunda (que é uma profunda unidade de todas as coisas, feita de relações mais do que de conteúdos) o apanhou, numa tarde Verão, à beira-mar, e o tocou, sem alterar as suas convicções de físico atómico, antes as confirmando e ampliando: «Sendo um físico - escreve Capra - eu sabia que areia, rochas, águas e ar que me rodeavam são feitas de moléculas e átomos vibrantes (...) Tudo isto me era familiar pela minha investigação na física das altas energias, mas até ali só tinha sentido isso através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia, as minhas anteriores experiências vivificavam-se: «vi» cascatas de energia descendo de um espaço externo, onde as partículas eram criadas e destruídas ritmicamente; «vi» os átomos dos elementos e os do meu corpo participando nesta dança cósmica de energia; «senti» o meu ritmo e ouvi o seu som, e nesse momento soube que era a Dança de Shiva, o Senhor dos Dançarinos adorado pelos hindus.»
Definida assim, pelo próprio autor - em palavras que mais ninguém podia subscrever, porque a «experiência interior» é pessoal e intransmissível - a intuição central de Capra tem, como se calcula, incalculáveis consequências para ele ( apanhado em um daqueles momentos-limite existenciais que decidem de uma vida inteira) mas também para a ciência que cultiva e para o sistema cultural a que deve obediência. Um verdadeiro drama. A estes momentos únicos de hecatombe interior há quem chame momentos de «iluminação».
Neste sentido, Capra é um autor sincero, pois bem podia ter ficado calado, continuando a jogar conforme as regras do jogo estabelecido, em vem de obedecer às motivações profundas da sua consciência moral, abalada nos alicerces. Só assim se poderá compreender que ele ousasse desafiar, com teses heréticas e extremamente perigosas para a sua segurança pessoal, o sistema, permanecendo assalariado do próprio sistema: o mundo organizado, pré-programado e totalitário da instituição científica.

INSTITUIÇÃO IMPERTURBÁVEL

Mas a instituição parece não ter ainda percebido o enorme serviço que Capra lhe prestou com esta sua «ousadia». É que, feitas as contas, medindo os prós e os contras, não se sabe quem mais beneficiou deste súbito «aggiornamento»: se a ciência ocidental (à beira do descrédito pelas desastrosas consequências ecológicas já hoje indisfarçáveis), nomeadamente na sua especialidade de ponta, a microfísica nuclear, - se a sabedoria oriental, que nunca oscilou um milímetro, ao longo de mais de sete milénios. Limitou-se a ser ignorada dos filósofos socráticos e pós socráticos, o que só a prestigia e em nada a afecta. Antes, com Heraclito e Parménides, o próprio Capra não deixa de identificar as inúmeras afinidades entre estes pensadores ditos pré-socráticos, e a dialéctica do taoísmo, essencialmente movimento.
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(*) «O Tao da Física», Fritjof Capra, Ed. Presença
(**) «Le Temps du Changement», Fritfoj Capra, Editions du Rocher, Monaco, 1983
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», em «Livros na Mão», série do autor, a 7 de Agosto de 1990
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NA «ERA DA TRANSMUTAÇÃO»
O PARADIGMA PERDIDO (*)
[ 26-11-1988, in «A Capital»] – 1 - Na transição para o terceiro milénio e para a era do Aquário, é a abordagem holística, imediatamente após a abordagem ecológica, o instrumento metodológico adequado à complexidade dos problemas que a civilização tecnológica, completamente cega ao ambiente que a rodeia, tem provocado.
A abordagem ecológica é, no momento de transição, a pedra angular para não perder o pé da realidade e poder realizar o salto para o espírito sem cair no angelismo idealista dos pseudo-espiritualismos que hoje igualmente inflaccionam o mercado.
2 - A abordagem holística da realidade põe fim a uma ilusão estrutural do próprio sistema que vive de ir matando os ecossistemas.
Consiste essa ilusão em «correr constantemente para metas que constantemente se vão afastando».
É o espectáculo pornográfico da concorrência, alimentado por teorias «científicas» como o darwinismo, que invadiu praticamente todo o panorama do mundo contemporâneo, a Leste e a Oeste, onde o paradigma logarítmico do desenvolvimento provoca necessariamente a destruição maciça e inevitável dos recursos naturais.
No mito das metas a alcançar, reside um dos vícios fundamentais em que assenta a civilização tecnológica: e nada adiantam reformas sectoriais no Ambiente, com políticas reformistas de anti-poluição, se todo o sistema continuar a ser minado por vícios estruturais como esse.
«Os Cavalos também se Abatem», romance de Horace Mc Coy (1962), ilustra este vício estrutural da civilização industrial, sem renunciar ao qual essa civilização poucos mais anos poderá sobreviver à falta de recursos naturais que explorar.
Sem um paradigma (ecológico à partida, enquanto radicalização da realidade histórica e holístico nos objectivos e nos programas de acção política), que retome os mais antigos paradigmas das mais altas civilizações da Terra, o planeta continuará a sua marcha para o abismo da autodestruição. Não é por acaso que filósofos como Garaudy apelam às fontes orientais da Sabedoria e historiadores, como Toynbee, ao diálogo das civilizações.
Não é por acaso, também, que um dos mais conhecidos «contemporâneos do futuro», o profeta Ernest Frederich Schumacher, apontou, na sua obra «Small Is Beautiful», a «economia budista» como modelo alternativo de vida à economia tecnocrática actual.
3 - A crise ecológica e os problemas de ambiente não surgem por acidente, no contexto da civilização europeia e devem ser consideradas questões estruturais do modelo ideológico (ou «paradigma», Edgar Morin) que, através dos séculos, preside à história do mundo ocidental (ver Fritjof Capra, in «A Era da Transmutação»).
A abordagem ecológica da realidade implica assim, incessantemente, uma intervenção de maior ou menor alcance no modelo cultural vigente, ou, dito de outro modo, na ideologia dominante.
Não se trata de mudar alguma coisa à superfície para deixar, na essência, tudo na mesma, mas de dar um contributo à «mudança».
Note-se que a mudança, no sistema totalitário que caracteriza a cultura europeia e ocidental, só poderá fazer-se pela criação de alternativas paralelas (de autarcia e auto-suficiência) à sociedade estabelecida.
4 - Conta-se a ciência entre os subsistemas do sistema cultural vigente, pelo que a crítica da ciência estabelecida, servindo esta incriticamente o sistema, se inscreve entre as primeiras «démarches» da abordagem ecológica.
Não se trata de ir contra a ciência, mas de mostrar que a ciência actual, submetida como está às forças económicas e políticas, não pode ter a independência suficiente para se distanciar dessas forças a quem deve total submissão.
A ciência é financiada pelo Estado ou pelas multinacionais, que são entidades super-estados. O mecenato constitui-se hoje como política dos países europeus que dizem, assim, servir a cultura e as artes.
A Ecologia não poderá, enquanto constelação de ideias, incluir-se então nesse conceito de cultura «dependente», já que a independência do sistema económico é condição «sine qua non» de uma abordagem ecológica, necessariamente crítica do sistema estabelecido, sistema que é «causa rerum» da chamada crise ecológica.
5 - A ideologia, traduzida através do discurso dominante em todos os «mass media», é outro objecto fundamental da abordagem ecológica, enquanto análise do sistema que vive de ir matando os ecossistemas.
A abordagem ecológica da realidade política, económica, cultural, artística, literária, desportiva, implica uma análise crítica do discurso e das mitologias que efectivamente sustentam o sistema biocida.
Mathias Finger, da Eco-Ropa (organização fundada por Denis de Rougemont) fala de uma «tanatocracia», da palavra «tanatos», morte, que na «Frente Ecológica» temos designado por «biocídio» nas suas variantes de homicídio e etnocídio qualificados.
6 - A procura holística da unidade universal no mundo fragmentário dos reducionismos e
sectarismos, tem, como qualquer outra construção do espírito, riscos que a capacidade humana não consegue, por vezes, evitar.
O «holismo» é necessário, é mesmo condição «sine que non» da sobrevivência planetária e humana, mas espreitam-no perigos e erros, acidentes de percurso: «abstraccionismo», «materialismo espiritual» (Chogyam Trungpa), «dogmatismo», «angelismo», «irrealismo», etc. são alguns desses erros.
Correndo esses riscos, o «holismo» terá, como corrente fundamental deste nosso tempo, que reforçar o seu peso na mentalidade contemporânea, corrigindo os excessos de divisionismo e fraccionamento que levou, de facto, longe de mais a pulverização da realidade, a «atomização da realidade» (Lanza dal Vasto).
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(*) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no jornal «A Capital», em 26 de Novembro de 1988
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1-13 quinta-feira, 6 de Novembro de 2003 

 http://www.archipress.org/index.php?option=com_content&task=view&id=129&Itemid=49
 
Sagesse des Sages, conversations avec des personnalités remarquables
Fritjof Capra (L'Age du verseau, Paris, 1988)

"Depuis quinze ans, Fritjof Capra plaide pour l'abandon d'une conception trop mécaniste -voire cartésienne- du monde". Ce livre est une rencontre avec des personnes tels que Werner Heisenberg, Krishnamurti, Ronald D. Laing, Alan Watts, Gregory Bateson et surtout Hazel Henderson. "Capra a approfondi une réflexion singulière (...) Notre avenir, notre survie même, passent par une nouvelle sagesse : celle d'individus susceptibles de travailler à l'élargissement de leur propre conscience".
L'auteur est physicien diplômé de l'université de Vienne. Il a écrit Le Tao de la Physique et Le temps du changement .

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