STEFAN ZWEIG: UM REENCONTRO FELIZ
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quinta-feira, 22 de Setembro de 2005
OBRIGADO A MAX OPHULS:
O MEU REENCONTRO COM STEFAN ZWEIG
Era previsível que o Yahoo de língua brasileira desse grande relevo a Stefan Zweig, que ao Brasil dedicou anos da sua vida e um livro «Brasil, País de Futuro».
Judeu e austríaco são outros dois motivos para que, no Ocidente, ele não seja esquecido como escritor.
Eu tenho hoje um pequeno pretexto para incluir o seu nome nesta galeria de autores e livros queridos da minha vida.
Não foram as grandes biografias históricas que nele me interessaram mas a trilogia de biografias sobre intelectuais e filósofos.
Dele guardo os livros para mim mais sublinhados, na simpática edição da editora Civilização, do Porto.
Mas também os títulos menos referidos, entre eles a «Carta de Uma Desconhecida», adaptado ao cinema por Max Ophuls.
O pretexto próximo de que falo foi ontem, no canal Gallery da TV Cabo, o soberbo filme de Max Ophuls, sublime preto e branco com a sublime Joan Fontaine. Apesar de passar às 11 horas da noite, consegui vê-lo de fio a pavio, o que significa para o meu cansaço de filmes e televisão alguma coisa.
Títulos ainda na Biblioteca do Gato:
Stefan Zweig – Os Construtores do Mundo - A Cura pelo Espírito – Introdução Geral - Mesmer – Mary Baker-Eddy – Freud – Trad. de Alice Ogando - Livraria Civilização, Porto, 1949
Stefan Zweig – Os Construtores do Mundo – Três Mestres – Balzac – Dickens – Dostoiewski – Trad. de Alice Ogando – Livraria Civilização, Porto, 1955
Stefan Zweig – Confusão de Sentimentos – romance – Trad. de Alice Ogando – Livraria Civilização, Porto, 1957
Meus Files word de textos relacionados com Stefan Zweig:
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REENCONTRO COM ZWEIG
Paris continua a dar ordens sobre o que se deve e pode ler, os autores autorizados e os banidos. Cá e lá nunca nos faltaram os polícias sinaleiros que nos regulam o trânsito literário. Desta vez, assistimos à ressurreição de Stefan Zweig, atirado há anos para os autores de 2ª e 3ª linha. Agora, até as editoras portuguesas, na linha das brasileiras que se mantiveram mais fiéis, se atiram a Zweig como gato a bofe. O artigo de João Céu e Silva, in «Diário de Notícias», dá conta dessa súbita viragem.
Há dias, coloquei neste blog um posted sobre Zweig mas volto hoje para fazer o link ao mencionado artigo.
E que seja tudo por amor aos livros. Amar mais animais e livros, é o slogan que hoje proponho, contente pelas notícias que vão aparecendo.
««TRILOGIA EM TORNO DE STEFAN ZWEIG
"O MUNDO DE ONTEM" DO ESCRITOR AUSTRÍACO PODE SER MOTIVO PARA REGRESSAR À SUA OBRA
in «diário de notícias», 2 de Outubro de 2005
por João Céu e Silva
««Não é de estranhar que na livraria parisiense L'Écume des Jours, a paredes meias com o café Deux Magôts, se encontre o pequeno volume de bolso intitulado Voyages entre algumas dezenas de livros da prateleira que acolhe quase toda a obra do escritor Stefan Zweig.
«Também não é de estranhar que no Brasil o crítico Alberto Dines aprofunde, reuna e publique num grosso volume os seus dois trabalhos, a que deu o nome final de Morte no Paraíso, sobre a vida daquele mesmo escritor pois foi naquele país que ele e a mulher ingeriram veneno e puseram fim à vida.
«Por isso, também, não é de estranhar que no mercado português haja uma editora, a Assírio & Alvim, que pegue numa das suas obras e a edite em tempo mais que oportuno. Trata-se de O Mundo de Ontem, onde o autor austríaco nos conta ao longo de 495 páginas alguns dos momentos mais críticos de uma época da história da Europa que ainda está fresca na memória de muitos dos seus habitantes.
«Diga-se que Stefan Zweig não é actualmente um escritor de referência para os leitores nacionais, como também não o é para os nossos pares europeus, esquecido e datado pelo modo de escrita e alguma leveza novelística com que a maior parte das suas obras se caracterizavam. No entanto, se o desejarmos recordar e, por essa mesma razão, pegarmos no livro 24 Horas na Vida de uma Mulher e o lermos de um só fôlego vemos que não saímos cansados dessa tarefa de o recordar. Pelo contrário, confirmamos que a sua capacidade de prender o leitor não está assim tão ultrapassada e que, apesar de ser uma intriga gasta pelo passar do tempo, uma trama desfocada dos dias que correm, iremos ver que a arte de entreter as palavras está de braço dado com uma perfeita técnica e um timing que não cansa o leitor actual.
«Outro exemplo deste escavar no passado pode acontecer ainda com o seu texto de análise política e (até) antropológica Brasil, um País do Futuro, que é um outro bom exemplo de como um livro pode servir de parâmetro para avaliar as mudanças verificadas na política, na economia, na sociedade e na cultura de uma nação que tão bem conhecemos com o cotejar possível após a passagem de várias décadas da sua publicação.
«No caso de o leitor não ter paciência para se deliciar de uma vez só com estes três volumes atrás referenciados, é O Mundo de Ontem que deve preocupá-lo. Designadamente porque o seu subtítulo "Recordações de um Europeu" assim o justifica tal é a actualidade dos temas que trata.
«Logo no prefácio, Stefan Zweig declara que "nunca atribuí tanta importância à minha pessoa que me sentisse inclinado a contar aos outros a história da minha vida" mas como a "época fornece as imagens" o autor avança no relato passível de ser executado por uma "testemunha indefesa, impotente, do inimaginável retrocesso da humanidade a uma barbárie que há muito se pensava esquecida".
«O que leva Zweig a descrever em quase cinco centenas de páginas os tempos que antecedem ao deflagrar da I e da II guerras mundiais é a mesma razão que o empurrará para o suicídio. É-lhe impossível ver a orientação do caminho trilhado pela Alemanha, que irá desembocar no segundo grande conflito bélico do século passado, sem tremer pelos seus resultados. Zweig escreve que "três vezes me despedaçaram a casa e existência, separando-me de todo o antes, de todo o passado e, com a sua veemência dramática, lançaram-me no vazio". deste modo, irá o escritor fazer parte dos milhares que abandonam a paz adquirida nos tempos que se seguiram à I Guerra Mundial - é brilhante a descrição das novidades tecnológicas que surgiam no pós-guerra, no à vontade com que se viajava no Continente e se faziam amizades - e que com a chegada da II Guerra Mundial foram obrigados a partir em direcção a outros destinos. É o retrato muito realista - e intelectual valioso - de um cenário que vai entre o princípio do século XX e a sua quarta década que domina o leitor destas páginas, onde existe a possibilidade de sentir a génese da actualidade e a percepção dos sinais que apontavam para a característica dos tempos futuros.
«A biografia de Alberto Dines vem neste sentido e pode-se dizer que é o outro lado do espelho que nos permite compreender o que torna o desfecho da sua vida tão trágico. Zweig não é um escritor acabado quando assenta arraiais no Brasil, não fica isolado dos centros da cultura ou preso à suburbanidade dos trópicos, pelo contrário consegue manter acesa a chama da escrita até ao inesperado momento em que cede, a desoras porque o fim de Hitler estava a desenhar-se com contornos cada vez mais claros.
«Talvez o pequeno volume das suas Voyages possa dar uma outra resposta à irracionalidade desse suicídio pois os seus dezassete capítulos exibem, de uma forma evidente, o prazer de reconhecer o novo mundo em que Zweig tão bem se inseria. Há uma frase que o demonstra a viagem "é, com efeito, a única forma de descobrir não somente o mundo exterior mas também o nosso universo interior". »»
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