quarta-feira, março 13, 2013

ANTÓNIO CABRAL NOS ARQUIVOS AC


  1-2 segunda-feira, 19 de Maio de 2003 –cabral-2-ls

«OS HOMENS CANTAM A NORDESTE» :
UM LIVRO DE ANTÓNIO CABRAL

(*) Este texto de Afonso Cautela terá ficado inédito e deverá datar de 1966+-

Embora pareça que não, a escolha dos temas e a perspectiva de onde são vistos podem contar-se entre os factores de enriquecimento estilístico; e a fidelidade a uma voz pessoal, se aliena um conhecimento directo da realidade a que se prende, pode acusar em breve um esgotamento temático que será, quase sempre, um esgotamento técnico também.
Há entre os novos poetas entre nós editados, casos de esgotamento precoce que se devem a essa obsessiva preocupação com o estilo, a voz, a singularidade pessoais.
«Retrato em Movimento» de Herberto Helder e «Barcas Novas» de Fiama Hasse Pais Brandão são dois exemplos recentes: não fogem à receita que escolheram, não variam, no mesmo livro e de livro para livro, a técnica conquistada e os mecanismos postos em prática repetem-se monotonamente idênticos até à exaustão.
Não se parecer com outrém, manter uma opacidade invulnerável a outras linguagens, suspender a facilidade discursiva e o ritmo coloquial, dificultar a «palavra que se espera» ou negá-la sistematicamente , não transigir nunca com qualquer expressão narrativa da fala corrente – eis a deliberada receita dos poetas que temem acima de tudo a vulgaridade, ainda que tenham para isso que liquidar a ousadia de inventiva, o entusiasmo criador, aquele atmosfera de «encantamento mágico» sem a qual a poesia se torna um ofício de burocratas e a maneira mais literária de se aviltar.
António Cabral prefere a comunicação e a variabilidade de "receitas"; prefere a pesquisa (ainda quando se verificam estéreis); prefere socorrer-se de fontes alheias a permanecer em exclusiva dependência de si próprio.
Queiram ou não os obcecados de estilo e originalidade (preconceito que a doutrinação presencista e suas dependências quiseram enraizar de forma definitiva) há uma linguagem poética onde podem coexistir temas e técnicas das mais diversas origens; onde as "influências" ou contaminações estranhas são sinal de riqueza em vez do anátema  que a crítica disse que era; onde a miscegenação de "etnias" dá lugar a um puritanismo rácico absurdo.
A unidade de poetas como António Cabral não reside na monotonia cromática dos seus versos mas na disponibilidade constante para aceitar, ao mais leve aceno, sugestões, motes, temas, motivos, rimas, realidades e apelos que podem servir à sua oficina poética.
Tem assim muito de experimental este livro polifacético que um fio de continuidade, no entanto, percorre: a paisagem duriense, o Marão, os dramas e problemas dos que vivem na montanha, das vilas e aldeias perdidas a Nordeste, o emigrante, o "porto", as contradições de uma realidade que o poeta conheceu antes de contar, que estudou e amou antes de cantar.
"Vista parcial de uma Aldeia Duriense", " De Lamego a Resende", "Os Cabos Eléctricos do Douro", "Vila Real"," A Régua", "Numa Aldeia Duriense" - dir-se-iam títulos de fait-divers, notícias de jornal ou prosaicas crónicas da província.
Intencionalmente, "Os Homens Cantam a Nordeste" arranca de uma zona geográfica circunscrita mas, por uma linguagem que se alarga a sucessivas zonas de experiência humana e de comunicação afectiva, rapidamente universaliza o que poderia ser (mas não é) um documento monográfico da região.
 É natural que os ritmos e metros populares sejam os primeiros a fornecer matéria de transição entre o regional e o universal; talvez por isso, a quadra popular de sete sílabas, que se poderia supor já sem virtualidades, ressurge em alguns dos mais belos poemas do livro: "Rondó dos Mortos e dos Vivos", "Vila Duriense em Adivinha", “História das Calças Azuis", "Nado-Morto", "Uns Versos à Clarisse"; e a quadra de cinco sílabas em: "À saída do Correio", "Na Repartição".
Depois a toada do cancioneiro transmontano: e do romanceiro popular: "A Pedra” e "Romance do Rio Douro", "Barcarola do Vulto Negro e do Rapazinho Inconformista".
Glosa de temas e poetas clássicos são: "Comentário a uma Cobra de Joham Zorro ", "Velha Guitarra".
Perfeito epigrama é “Sol Engarrafado” e aquele outro poema em que António Cabral nos dá notícia satírica da sua arte poética: "Os Tais ou Pequena Sátira ao Gosto da Poesia Elíptico-Seca", aviso que não deixa de atingir quantos, ultimamente, fizeram da sua esterilidade poética uma teoria para a defender.
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(*) Este texto de Afonso Cautela terá ficado inédito e deverá datar de 1966+-

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Escrito por gatodasletras el 15/08/2005 


ANTÓNIO CABRAL
POETA E ESTUDIOSO DO FENÓMENO LÚDICO

quarta-feira, 10 de Agosto de 2005

Desde os tempos do quinzenário «A Planície» (anos 50) que conheço o António Cabral e houve tempo em que nos escrevíamos regularmente e sabíamos um do outro.
Cheguei a colaborar na página literária que ele coordenava em Vila Real de Trás os Montes, no semanário «Ordem Nova», e não sei se nos encontrámos pessoalmente em Lisboa alguma vez.
Files relacionados com o nome de António Cabral podem ser encontrados nos meus arquivos de manuscritos, dactil manuscritos e prints de files word.
O file inclui os dois poemas que publiquei no suplemento literário do jornal «Ordem Nova» , dirigido por António Cabral, em 1958.
Um deles, « quem sabe definir-te», é-lhe dedicado.
António Cabral foi um dos 79 poetas incluídos na antologia «Poesia Portuguesa do Pós Guerra» (1965, Editora Ulisseia), organizada por Serafim Ferreira e Afonso Cautela.
Também no jornal «Ordem Nova», 11.8.1957, António Cabral publicou uma entrevista comigo sobre «convívio, actividade nuclearista da cultura e «a planície», arquivada nas pastas do meu espólio pessoal.
Conservo cartas suas no meu espólio.
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Tive hoje a sorte de encontrar, no alfarrabista Gilberto, um livro seu que já há muito procurava : «Jogos Populares Portugueses», editorial Notícias, 3ª edição (Julho de 1998) é o título que vou acrescentar à minha Biblioteca, onde apenas figurava o romance por ele publicado em 1989, «Memória Delta».

Registo a nota biográfica que acompanha o volume, bem como a foto do autor:
«António Cabral nasceu em Castedo do Douro (Alijo), em Abril de 1931.
Licenciado em Filosofia, pela Universidade do Porto, é delegado do Inatel em Vila Real de Trás os Montes, depois de ter sido professor.
Iniciou a vida literária na poesia, com destaque para os livros Poemas Durienses (1963), Os Homens Cantam a Nordeste (1967) e Bodos Selvagens (1997). No âmbito da ficção, merecem referência os romances Memória Delta (1990) e a Noiva de Caná) (1995), bem como a peça de teatro O Herói (1964 - 2.° prémio da Academia Teresopolitana de Letras).
De referir, entre os inúmeros ensaios, Teoria do Jogo (1990), Jogos Populares Portugueses de Jovens e Adultos (1991) e Jogos Populares Infantis (1991), que projectaram além-fronteiras o interesse pela recolha e estudo do jogo popular e do fenómeno lúdico.»
Foto de António Cabral e um texto seu sobre o fenómeno lúdico, de que é um investigador veterano, podem ser vistos no site seguinte:

http://www.colectividades.org/elo/025/p07.html


Mas digno da obra e da personalidade de António Cabral (autor dos poemas durienses) é mesmo o site arte «azul- rumos» - para difusão das belezas transmontanas e da capital da província de Trás-os-Montes, Vila Real:

http://sapp.telepac.pt/rumos/autores.html

A visitar sem falta.■

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