domingo, março 01, 2009

IDEIAS AC 1965-75

1-6-ineditos-ac-mg =if= inéditos favoritos domingo, 15 de Setembro de 2002
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CHAVE PARA AC 1964: 
A ECOLOGIA HUMANA EM 1964 ? (*)
 
 INTUIÇÕES DE ECOLOGIA HUMANA
- NARRATIVA FABULOSA
- INVENTÁRIO AC
- CONCEITOS ALARGADOS
- LINHAS DE INVESTIGAÇÃO AC

«Diz-me o que comes -- em sentido lato -- e dir-te-ei quem és...»

Em 1964, já AC procurava o «sentido lato» (conceito alargado) e portanto a metáfora do «ar que se respira», sendo claro ao seu espírito que o «ar que se respira» é também o ideológico, o mitológico, o industrial, o químico, o físico.
Poucos anos depois, viria o sentido lato da expressão «o que comemos» e, portanto, o sentido lato da palavra «alimentos».
Mais tarde, encontraria, emocionado, em Simone Weil, a confirmação desta intuição do conceito alargado (ou plural) de alimento/alimentos.
E o inventário surgia, espontâneo, como o processo literário de dar a soma/ ou o somatório dos diversos factores ou «parcelas da soma».

[INÉDITO PARA TECLAR DESPONTUADO E/OU TEXTO ABERTO]

Nem só os físicos atómicos e a sua herança contribuíram para definir a espécie de ar que hoje se respira e, por maioria de razão, se há-de respirar amanhã.
Nem só as poeiras radioactivas
nem só a poluição do ar atmosférico pelas explosões termo-nucleares em testes na atmosfera
Nem só a água do mar onde caem bombas perdidas (as que se sabe e as que não se sabe) de onde são ou não são retiradas
Nem só o clima de histeria internacional criado pela corrida aos armamentos
Outros factores e ingredientes o constituem: a propaganda em torno das mitologias ou ideologias políticas, a demagogia pró-paz, os jornais, as agências, a rádio e a televisão
Outros factores e ingredientes o constituem: a atmosfera de industrialização maciça; a superpopulação e o isolamento dos indivíduos em unidades fechadas;
o ruído difuso que corrói, o ruído directo que lacera; o incremento de objectos domésticos e electro-domésticos, a alienação intelectual e afectiva a esses objectos; o espaço fechado dos arranha-céus;
a desproporção entre o indivíduo e os espaços monstruosos edificados nunca a pensar nele; a respiração física e moral dentro de ambientes viciados; o tédio intrínseco às super-organizações e respectivas hierarquias; a velocidade;
a agressividade do trânsito automóvel sobrepondo-se ao peão, ferindo, golpeando, empurrando; a devassa da vida privada, a que procedem as polícias;
as devassas à intimidade do domicílio (livros, roupas, papéis, gavetas, etc.) com pretexto em trabalhos de investigação; a censura oficial de actos, palavras, escritos, a chantagem e a delacção, os interrogatórios e a lavagem ao cérebro, os tribunais e as câmaras de tortura;
a espionagem e a contra-espionagem, não só ao nível das relações internacionais -- deteriorando na origem qualquer hipótese de convívio ou diálogo entre países -- mas ao nível das relações individuais, no trato quotidiano e profissional
a pena de morte efectiva ou a pena de morte disfarçada de funcionalismo médio ao serviço do capital financeiro e do Estado;
os investimentos financeiros postos ao serviço do armamento e retirados à bolsa do contribuinte que, além desse, esportulará mais o imposto de sangue e quantos impostos a cadência inflacionária de todos os regimes lhe impõe;
Mas nem só, nem só estes «pequenos nadas» constituem a paisagem que rodeia, modela e determina o indivíduo;
os valores, os chamados valores que filósofos fabricam nas universidades, discursam nas academias, inserem nas revistas da especialidade; as chamadas controvérsias ou colóquios de Genebra; as chamadas doutrinas ou teorias, ou humanismos, são ainda e também o habitat do homem civilizado.
Arterioesclerose, depressão nervosa, cancro, alcoolismo, intoxicação pelas drogas medicamentosas ou alucinogénicas, suicídio, acidentes de viação, acidentes de aviação, criminalidade -- parecem ser os surtos endémicos protagonistas da comédia humana nesta fase da História.
Agredido, bombardeado, atacado pelo «ar que se respira», posto à prova nas suas defesas, na sua resistência e no seu poder de superação, as doenças epidémicas são apenas a única forma que resta aos indivíduos de reagir e sobreviver: doente, mas sobrevivente.
As drogas ou «paraísos artificiais» já não chegam para atenuar a dor de existir em tal tempo e mundo; álcool, morfina, cocaína, LSD, tranquilizantes, narcóticos, já não chegam para atenuar a morte; por isso adoece, que é a única forma de estar vivo numa civilização doente de morte.


9184 caracteres de inéditos escritos em 1963/1964 e que foram redigidos sob clara influência de algumas leituras.
Nestes textos paira a influência de leituras como:
- Simone Weil, «As Doenças da Alma», in «l'Enracinement»
- Mesmer, «O Magnetismo Animal»
- Karen Horney, «A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo»
- Louis Pauwels, «Monsieur Gurdjieff»
- Aldous Huxley, «As Portas da Percepção»
- Erich Fromm, «A Sobrevivência da Humanidade»
- Voltaire, «Cândido ou o Optimismo»
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INTERFACES DA ECOLOGIA HUMANA:

1 -DIVERSIDADE CULTURAL
2 -SAÚDE
3 -ECONOMIA
4 -DIREITOS HUMANOS

10 ANOS PARA AMADURECER (?)1962-1972: AC EM PUBLICADOS DURANTE OS ANOS 1972-74
1972
Datam de 1972 alguns dos artigos publicados que foram marcantes na «descoberta» de intuições (de Ecologia Humana) ainda hoje, vinte anos depois, por validar ou invalidar. São as chamadas «teses impopulares», que me parece estar condenado a levar por toda a vida como uma cruz e que talvez nunca saiba se valeram ou não a pena. Quer dizer, se efectivamente tinha razão em defendê-las, sozinho, contra tudo e contra todos. É costume dar sentenças fáceis, aconselhando cada um a manter-se fiel às suas próprias convicções, neste caso às suas próprias intuições.
Outro aspecto a sublinhar é que essas intuições vão radicar -- vão encontrar raízes -- numa intuição central, surgida (EM 1962?) após a experiência surrealista e existencialista e a que, para facilitar, tenho chamado «perspectiva de escala». desde a perspectiva do animal à do extraterrestre, do louco ao toxicodependente, do pobre ao hipermilionário, desde a cultura aborígene dos maias ao modus vivendi de uma Europa medieval; cada «behavior» condicionado pelo meio, acho que foi sempre o centro à volta do qual girei, como um pião doido, pois a relatividade das culturas (das «perspectivas de escala») é um redemoínho anti-dogmático, capaz de consumir quem nele aposte ou se meta.
Mas haverá ciências humanas sem esta perspectiva de escala?, pergunto eu ao investigador de ciências humanas Carlos Filipe Marreiros da Luz.
1963
Quando publiquei alguns artigos, em 1972, impulsionado por esta intuição básica, nuclear, chave, deixava para trás muitos inéditos, que, desde 1963, falavam de idênticas obsessões. É de 1963, o ensaio «A experiência subterrânea - Poesia como Sinónimo de Iniciação», assinalando a influência esmagadora que tivera sobre mim a leitura desse texto imenso de algumas páginas que é «A Voz Subterrânea», de Dostoiewski.
Acho que foi este escritor eslavo o responsável pelas minhas manias ecologistas, apenas explícitas dez anos mais tarde. Também de 1963 (Abril), são vários inéditos sobre surrealismo e, como intuição básica, o ensaio(só muito parcialmente publicado) «Os Equívocos do equívoco neo-realista». [«Neo-realismo» era o eufemismo de que então se serviam alguns clandestinos como eu para designar o gulag nas artes e nas letras.]

1963
Creio que é também de 1963 (como se o meu ritmo fosse de 10 em 10 anos!) um outro texto-chave das (minhas) intuições, a que chamei «Definição do Homem Obsceno».
Curiosamente, acaba de ser publicado pela editora Hiena, em 1991, o ensaio de Henry Miller, que na altura me bateu forte e me levou a escrever essas 19 páginas A4, rigorosamente inéditas até hoje. É de notar apenas que a palavra «obsceno» tem continuado a servir para tudo, menos para designar aquilo que, filosoficamente, Henry Miller e eu significámos... Como se 19 pgs A4 fosse pouco, existe ainda um outro ensaio (rigorosamente inédito), intitulado «Acção Obscena e Reacção Literária» .
Também de 1963 -- como ano a que hoje chamaria «compact», pelo concentrado de produção que originou - , há um outro longo ensaio, inédito até hoje, inspirado na leitura absorvente (do niilismo) de Samuel Beckett, «Exercício dialéctico -- Entre a política da metafísica e a metafísica da política».
Parcialmente publicado (creio que no «Jornal de Notícias», suplemento literário) é também de 1963 (ano de oiro ou ano da desgraça?) «A Voz Trágica», escrito, creio eu, sob a influência quase demoníaca de Nietszche, cuj «A Origem da Tragédia» foi para mim também uma tragédia, pela forma como me bateu forte na cabeça. Ou antes, em todo o ser e não só no intelecto. Quando falo de experiência existencial -- ou de «aventura surrealista», ou de «homem obsceno» -- é isso que também quero dizer.

VOLTANDO A 1972-73
1972
São de 1972, as 12 pgs A4 sobre «O Dr. José Castro ou a Juventude do Naturismo», «compact disc» das minhas intuições sobre a interface «Saúde» da Ecologia (expressão que data, se bem me lembro, desse tempo). Enviado para a «Gazeta do Sul», é de confirmar se terá sido publicado neste semanário do Montijo ou se terá vindo a inserir-se, por iniciativa do Dr. Rocha Barbosa, director desse semanário, no livro «Ecologia e Medicina» por ele produzido e editado.
Dez anos depois destes pontos vitais, creio que me aplicava mais terra a terra ao concreto, deixando na prateleira os escritores e todo o seu veneno letal. Chama-se «Contributo à Revolução Ecológica», um livro publicado em condições bastante curiosas -- impresso e composto em Coimbra, por influência do meu compadre Matos-Cruz --: foi um bico de obra conseguir tirá-lo de lá, pois os tipógrafos resolveram achar que o texto não era suficientemente revolucionário . Mais um episódio deste calvário , foi este do meu livro «Contributo à Revolução Ecológica», cujo exagero do título está de acordo com os tempos de exagero que então se viviam.
É só para dizer que nesse livro se encontram impressas algumas intuições que me gabo de ter tido e que até hoje não vi ...confirmadas nem desmentidas. Cito, por exemplo, títulos como: «Generalizando Conceitos para compreender certos preconceitos» (10/7/1972), «Melhorar o Mal - Primores do Reformismo» (12/7/1972), «Desprezo pela qualidade da existência» (19/8/1972).
Insólito e nunca visto é, por exemplo, o que aparece dito nesse livro em 19/4/1972, sobre os organismos especializados da ONU, nomeadamente FAO e OMs.
Aparece publicado no «Diário do Alentejo» (o jornal que mais aberto se mostrou às teses esquisitas), um artigo de 5 pgs A4, «Aspectos esquecidos pela Campanha Internacional contra a Poluição». Irá aparecer em livro incluído em «Ecologia e Medicina», um texto carregado de maus presságios (intuições...), « Tristes recordações de um Dia Mundial» (10 pgs A4), escrito no Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho.
Nesse texto, abordava-se o tema ainda hoje tabu da medicina preventiva confundida com «vacinas». Data de alguns dias antes -- 28/5/1973 --, o texto mais virulento sobre vacinas -- posteriormente aparecido em colecção «Textos de Apoio» -- que se intitulava «A Cada um o seu sarampo e a vacina para todos». Para o bem e para o mal, continuo a achar que esse texto -- longo de 21 pgs A4 --, essa tese e essa intuição, continua intocável. E que é um ponto-chave da alavanca na subversão do sistema.
Já em 1973, o Dia Mundial do Ambiente ficaria novamente assinalado com um texto de 10 pgs A4, ainda mais subversivo, «As Cobaias do Barreiro e a Agonia de um Método», em jeito de carta dirigida ao Prof. Delgado Domingos, que já então dava troco a alguns ecologistas fanáticos como eu. Mereceu inclusive uma carta dele, que devo guardar, creio, nos lotes (atados) «Cronologia», na respectiva data.
São de 1973, na maioria, os textos que viriam a sair publicados no livro «Ecologia e Medicina», onde me defendi, conforme pude, acolhendo-me sob a autoridade do Dr. Rocha Barbosa e do Alain Bosquet (André Gorz). Tema fulcral entre outros que nunca mais vi abordado nem sequer por ecologistas, é o das «Doenças do Consumo», que consome várias páginas das 33 A4 de tão longo e polémico ensaio.
São também de 1973, textos incluídos no livro «Contributo» e que constituem um «pesado contributo» à subversão que na altura parecia possível efectivar: «Um Problema de Lixo» (22/4/1973), 3 pgs A4 e «Contra a demagogia das Poluições», a noção de ecosfera no centro da unidade dialéctica», 5 pgs A4, em que se inclui uma citação de Barry Commoner, um dos ideólogos do movimento mais esquecidos e que, anos mais tarde, viria a fundar, sem êxito, o Partido dos Cidadãos nos EUA.
A vertente ou interface «económica» da ecologia aparece em força também em 1973, com o ensaio dos ensaios (um «compact disc» da «minha música») que é «Depois do Petróleo, o Dilúvio - Ecologia e Dialéctica da Crise», publicado -- e portanto esmagado -- em pleno Abril de 1974. Depois disso -- receio bem... -- não fiz mais do que me repetir.
1974
São 19 pgs A4, o ensaio «Tribunal Ecológico para delitos Contra o Ambiente: Tarefa de Hoje para os Que vierem amanhã», «compact disc» da vertente ou interface «direitos humanos» da ecologia, vertente que os ecologistas completamente omitiram, no pensamento e na prática. Uma intuição, publicada in col «Mini-ecologia» nº 4. que caiu também e portanto em cesto roto.
São de 1974, as 18 pgs A4, publicadas no livro «As Feiticeiras», «compact disc» de uma intuição sobre uma interface da ecologia, a das «culturas arcaicas». Destruí, creio, o último original dactilografado, pelo que resta apenas o texto publicado no livro da editora Afrodite
São 17 pgs A4 o «Manual Prático de Resistência Passiva & Acção Quotidiana, pacífica, não violenta, escrito em 25 de Janeiro de 1974 e publicado, posteriormente ao 25 de Abril, em colecção «Mini-Ecologia», nº 2.
Na sequência desta, outras intuições do movimento ecologista (não confirmadas nem desmentidas até hoje...) aparecem em textos, tais como:
-«A Ecologia é uma fase evoluída da marcha histórica» 15/2/1974, (in «Contributo»?), 3 pgs A4
- «O Paraíso dos Gadgets ou Algumas histórias da tecnologia boa - Pedagogia do Consumidor», 15/4/1974, 27 pgs A4
- «Cristóvão Colombo no meio de Chacais - Crítica da Ciência Sofística», 4 pgs A4, in colecção «Mini-ecologia», nº 9
- «A Luta contra o Obscurantismo passa pela imaginação criadora», 7 pgs A4, 12/8/1974, in «Diário de Lisboa», 12/8/1974
- «Emancipar o Consumidor, desinstitucionalizar os serviços», 23/11/1974, 9 pgs A4, in colecção «Mini-Ecologia»?

TEXTOS CONJUNTURAIS E CIRCUNSTANCIAIS - 1974-1975

[«Breve Experiência da Liberdade - Intervenção Cívica do Jornalista», 4 publicados de 1974]
- «Em legítima Defesa do Jogo democrático», in «Diário de Lisboa», 31/7/1974, 5 pgs A4
- «Mobilizar Capacidades - Descolonizar o Povo», in «Diário do Alentejo, 12/7/1974
- «Os Arrivistas do Proletariado», in «Diário do Alentejo», 27/7/1974, 2 pgs A4
- «Brigadas de Boa Vontade - Aproveitar já todos os recursos humanos», 10 pgs A4, in «Diário do Alentejo», 3/10/1974
- «Organizados em Movimento Unitário - Trabalhadores intelectuais repudiam pluralismo que integre forças contra-revolucionárias e apoiam poder popular» , in «O Século», 7/10/1975, 2 pgs A4
- «Que partido escolher?», in «Diário do Alentejo», 16/9/1974, 1 pg A
1975
- «Com o MFA: Contra os alarmismos apocalípticos de certa imprensa estrangeira (e nem só)» , in «Diário do Alentejo», 13/2/1975, 2 pgs A4
Talvez inédito e com certeza insólito surge um texto de 16/7/1975, 11 pgs A4, «Manifesto Contra a Liberdade -- Eu Anarquista me Confesso admirador da ordem e da disciplina pela ditadura da Natureza»
[ Com este título, de certeza que não o publiquei em parte nenhuma, nem sequer nos cadernos da clandestinidade que foram as edições «Frente ecológica»
- Na mesma onda, juntam-se mais 5 pgs A4, onde aludo à assembleia do MFA. Penso que posso datar daí -- 25/7/1975 -- os primeiros confrontos com a «censura pós 25 de Abril»
- Há um título de arrumação, aliás, «Os Censurados de Abril -- 11 impublicados de 1974 e 1975», suficientemente explicativo para necessitar mais comentários

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