sexta-feira, fevereiro 20, 2009

POSTULADOS 2012

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10/11/1998

IDEAL CIENTÍFICO OU PRAXIS NATUROLÓGICA? A ESCOLHA É NOSSA: LÉXICO(Palavras-chave directamente ligadas à Naturologia são assinaladas com um asterisco *):

Aleteia (verdade em grego)
Antropológico
Autores citados:
Barreiras dóxicas
Caixa de Pandora
Capacidade homeostática *****
Compacticidade vivencial *
Contemplação
Contexto da descoberta (Karl Popper)
Enciclopedismo *
Epistemológico
Estoicos
Galileu
Ideal científico
Indagação psicanalítica *
Obstáculo epistemológico
Ôntico
Ontológico
Paciência epistemológica *
Paradigma holocêntrico
Pensamento racional
Pressa moral *
Sapiencial
Sofistas
Soteriológico
Virtude*

AUTORES CITADOS:
Albert Camus
Aristóteles
Pitágoras *
Platão
San Juan de la Cruz (la noche oscura)
Santo Agostinho
São Boaventura
São Tomás de Aquino

SUBLINHADOS:
A dimensão trágica do eu.
A verdadeira sabedoria está no Logos
A vida é egofágica
Crença é factor propulsor
Há grande diferença entre o mundo da verdade e o mundo das opiniões.
Nada se perde, tudo se transforma.
Não podemos ser iconoclastas.
O ideal científico é uma categoria móvel
O logos está na base da verdade
O luxo da consciência
O meu presente está condicionado pelo meu passado
O poeta é um fingidor
O psiquismo é dinâmico
Perdemos a noção de que podemos aceder ao real

«Ciência sem consciência é ruína ou calamidade da alma.»
Se Rabelais é o autor deste axioma quase postulado, é caso para ficar a admirar duplamente o escritor de «Pantagruel» - obra monumental e profética da humanidade - tão ignorado dos cientistas mas que estaria mais certo numa história das ideias do que na história da literatura.
O referido aforismo de Rabelais bem pode conduzir-nos, como fio director, na leitura desta lição de Epistemologia.

Parece, de facto, que do ideal científico passámos, ano após ano, década após década, século após século, para o actual chafurdo do irreal virtual e do irracional virtual.
E a questão epistemológica interessante talvez seja esta: a actual abjecção vem na linha lógica e cronológica do ideal platónico - a pureza das ideias - ou resulta de um desvio e de uma perversão desse ideal?
Será o moderno chafurdo uma consequência inevitável dessa pureza inicial do Logos (a que se chamaria, nesse caso, puritanismo), ou aconteceu um processo degenerescente a que todas as civilizações se encontram submetidas? Teria acontecido à civilização helenista o que aconteceu a tantas outras que entraram também no seu ciclo de decadência ?(Vide teoria de Toynbee sobre os ciclos históricos).

OS FRUTOS DA CIÊNCIA MÉDICA

Pelos vistos - e revertendo de imediato à Naturologia - o que parece prudente é não avaliar a verdade pelos seus princípios programáticos - neste caso a caverna do senhor Platão - e avaliá-la antes pelos resultados. Diz a Bíblia dos cristãos: «Avaliarás a árvore pelo seu fruto.»
A Naturologia deverá adoptar este bíblico anexim como seu postulado orientador.
Haverá exemplo mais emblemático do que a Homeopatia? Segundo os esforçados investigadores da ciência oficial, aquilo é uma parlapatice (foi um tal François Jacob, que se diz Prémio Nobel, a lançar o anátema, a convite da revista «Science et Vie», que a D. Isabel Stilweel logo reproduziu, ipsis verbis, na revistinha que dirige, o magazine «DN»).
Segundo a prática milenar (porque a homeopatia não nasceu com Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843) como continua a repetir-se por tudo o que é texto naturológico) , esta terapia resulta e ponto final.
Aliás, vendo um pouco mais de perto o fatídico incidente, o facto de a ciência médica ordinária não ver qualquer valor na pura energia de uma diluição homeopática, apenas assinala a sua triste miopia, aquela mesma miopia que levou outro cretino (Charcot?) a afirmar que nunca tinha encontrado a alma na ponta do seu querido bisturí.
Discordo do meu professor José Alves numa única afirmação sua:
«Não podemos ser iconoclastas.»
Tratando-se de salvar a pele ( e principalmente a alma) acho que não só podemos como devemos ser iconoclastas.
Os idola tribu, do senhor Bacon (Francis ou Roger?), são uma categoria sempre actual da epistemologia. E o nosso dever é derrubá-los. Aos ídolos, evidentemente.

A INDÚSTRIA DA DOENÇA

Por isso, o critério de verdade não é nem tem que ser tão puro como continua a querer-se e em Naturologia teremos que reabilitar o conceito de pragmatismo, caído em desgraça ainda estou para perceber porquê.
Possivelmente porque a doença se tornou rentável, lucrativa e o maior negócio do mundo, superando mesmo o dos automóveis.
Mas, nesse caso, será que ainda vamos falar, a propósito, de ideal científico?...

A SOLIDÃO DOS CRIADORES E O LOBBY MÉDICO-FARMACÊUTICO

O «contexto da descoberta», a que alude Karl Popper, é dúplice e ambíguo: tanto dá para abortar uma ideia genial que irá subverter a estabilidade de um sistema ideológico podre, como poderá, por conveniência interna, gerar uma ideia que seja útil ao mesmo sistema.
O criador isolado, cavaleiro andante na busca do ideal científico, se alguma vez existiu, despareceu completamente do mapa. Ou ficou imortalizado por Cervantes, que lhe contrapôs o pançudo Sancho. Hoje não há, em ciência médica, franco-atiradores, criadores isolados, investigadores austeros no seu covil de pesquisa. E muito menos em Naturologia, assediada por abutres de todos os lados.
Se não for a Epistemologia, com a ajuda da História da Saúde, a estabelecer novas pistas de pesquisa na ciência naturológica, o ciclo vicioso - já apertado - irá apertar-se cada vez mais. E sufocar a Naturologia.
Como o nosso professor fez notar, os obstáculos «corporativos» são, nesse contexto da descoberta, perfeitamente decisivos. Foi a tese, aliás, desenvolvida numa comunicação ao primeiro Forum de Medicina Natural: o regime corporativo que vigorou antes do 25 de Abril e do qual beneficiava a classe médica como principal privilegiada, continua, e ainda mais assanhado, no pós 25 de Abril.
As corporações acabaram e agora chama-se «lobby médico-farmacêutico».
Não há, portanto, «paciência epistemológica » que chegue para aguentar estes anacronismos da vida «científica» que continuam fazendo, para muitos de nós, a vida num inferno, nomeadamente os alunos de todos os graus de ensino. Por isso o nosso professor falou de «pressa moral».
O tempo de guerra acabou e a guerrilha deverá actuar. «Mein kampf» como alguém lhe chamou.
Raramente, este tipo de «adversidade» institucional poderá ser instigadora de criatividade. Como disse o nosso professor e como alguém também poeticamente terá glosado, não sei se Antonin Artaud (1896-1948), se Samuel Beckett (1906-1989), se Albert Camus (1913-1960) : «Tudo o que foi feito de grande, foi para sair de um cul de sac», sinónimo da máxima latina «In dolore partem...», parirás em dor.
O novo paradigma naturológico rejeita esta filosofia ancestral: o parto não tem que ser doloroso, já que a dor surgiu como desvio de uma arte antiquíssima de viver.
Basta olhar como uma gatinha tem os seus gatinhos. Alguma coisa está profundamente errada na espécie humana. E a Naturologia tem obrigação de o descobrir. Urgentemente. E não estou a referir-me só ao parto sem dor, que devia ser disciplina obrigatória nesta escola. Estou a referir uma técnica muito mais alargada da arte de viver que incluísse, obviamente, uma arte de nascer, uma arte de envelhecer e uma arte de morrer.

NÓS, OS VELHOS

A forma simpática como o nosso professor encara a função do velho na sociedade, pode ser um bom princípio para nos aproximarmos, nessa matéria, da sabedoria oriental e para valorizarmos a voz da experiência em vez de só darmos ouvidos à autoridade livresca do magister dixit, do papagaio erudito.
A longevidade, aliás, é um dos dossiês de interface holística que poderão ser propostos à Naturologia nos anos mais próximos. Ou já, dada a urgência da démarche.

ANTROPOMORFISMO: 4ª FERIDA NARCÍSICA/ FREUD NO DIVÃ DO PSICANALISTA

O tema da Queda, sublinhado nesta nossa lição, interessa directamente a Naturologia.
1º - Porque reconfirma a concepção cíclica do universo e portanto os bioritmos
2º - Porque da Queda adâmica às quedas actuais no abismo das várias crises planetárias, a famosa hominização tem sido uma carreira de obstáculos muito interessante como espectáculo
3 - Porque a crise está inscrita nos genes do Logos: e o que temos hoje, decorre apenas do que eles fizeram ontem e anteontem.
Pergunto-me se a terceira ferida narcísica de Freud inclui um surto que Edgar Morin relata, com abundância de citações, no livro «O Paradigma Perdido»: ele não utiliza a palavra mas acho que se pode falar em «antropomorfismo» que, durante milénios, alimentou todos os discursos sobre a vida e a evolução dos seres vivos. O homem sempre de bancada a assistir aos sacrifícios romanos nas várias arenas do mundo onde tem ido como caçador, conquistador, colonizador.
O homem, narcisicamente, sempre se apresentou como o ser supremo da criação, com todo o direito e poder de decidir sobre as outras espécies.
É aqui que a Minhoca pode entrar e que o senhor Freud pode voltar para anotar a 4ª ferida narcísica:
Sem a minhoca, a espécie humana não existiria.
Aliás, não existiria sem os seres mais ínfimos, como as bactérias.
Não existiria sem a clorofila.
Não existiria sem ...
Esta interdependência do Rei relativamente aos súbditos escravos seria uma bela ferida para deixar o tio Freud capaz de cair num divã de psicanalista.

O PEDREGULHO DAS MEMÓRIAS E A MUTAÇÃO ALQUÍMICA

Muito interessante a tese apresentada pelo nosso professor sobre o peso que carregamos às costas, os quilos de pedregulhos que o nosso inconsciente carrega e a que poderíamos, em sentido lato, chamar memórias.
Há hoje duas correntes que têm uma resposta provocadora a essa questão altamente provocante da epistemologia:
- uma é o budismo tibetano da Ordem Nyngma, que afirma solenemente: transmutarás as tuas energias (informações) negativas
- outra é a alquimia da vida ou gnose vibratória de Etienne Guillé, que fornece todos as ferramentas para a transmutação alquímica diária (transmutação das energias, informações ou memórias que carregamos às costas).
O «psiquismo é dinâmico» como afirma o nosso professor mas tem que ser...dinamizado ou, em linguagem mais apropriada, alquimizado.
Técnica esta que, evidentemente, se distancia anos-luz das técnicas psicanalíticas, devendo identificar-se muito mais com a tradicional cura iniciática.
As técnicas modernas reforçam o ego e portanto «a dimensão trágica do eu», enquanto a cura iniciática se destina essencialmente a dissolver o ego, raiz de todos os dramas e ranger de dentes...
A vida só é egofágica, voraz e egoísta, no contexto de «ignorância» em que nos encontramos, geração após geração. Ignorância a que o budismo chama «avidia».
Se perdemos hoje a convicção de que é possível aceder ao real - como se afirmou durante a lição - a resposta está, talvez, na ciência noológica (a criar) ou ciência das energias.
Se a energia não é o real, então todo o universo, toda a criação será uma imensa ficção e a vida um pesadelo dentro de outro pesadelo.

METABOLIC MEDECINE = ALQUIMIA ALIMENTAR

Metabolizar memórias (sacos de pedregulhos) seria a démarche que a Naturologia deveria incluir numa cadeira de ...medicina metabólica ou - porque não? - na cadeira de Bioquímica, aquela que na nossa escola mais perto se encontra de abrir as janelas à Alquimia.
E, portanto, à transmutação das energias.
Ver o tratado básico desta alquimia da vida, desta transmutação energética, nas seguintes obras de fundo:
C.L. Kervran - «Transmutations a Faible Energie» - Ed. Maloine - Paris, 1972
Michio Kushi e Edward Esko - «The Philosopher's Stone» - Ed. One Peaceful Worl Press - Massachusetts - 1994
Etienne Guillé e Christine Hardy - «L'Alchimie de la Vie» - Ed. du Rocher - Paris - 1983
Etienne Guillé - «Le Langage Vibratoire de la Vie - L'Alchimie de la Vie» - Ed. do Rocher - Paris - 1990

LIBERDADE DE ESCOLHA PARA O PACIENTE

Os conceitos de conhecimento sensorial e conhecimento intelectual, bem como o tema dos órgãos dos sentidos, são uma noção posterior ao Logos.
A única coisa a dizer numa perspectiva naturológica é esta: se o Logos nos tem governado e muita gente dele se governa, pois deixem estar o Logos. Não queremos estragar o emprego a ninguém. Mas o que se torna imperioso são alternativas a essa «ditadura» - umas vezes suave, outras vezes sangrenta - do Logos sobre a espécie. E que o princípio da liberdade de escolha não seja coagido.
«Liberté, couleur d'homme», parece que disse o poeta Paul Éluard (1895-1952) : embora a liberdade seja mais um mito do que um ideal, mas fica sempre bem, em regime de ditadura médica, invocar esse ideal.
Se - como afirmou o nosso professor - o Logos está na base da verdade, como iremos desembaraçar-nos do Logos sem ficar anatematizados como «mentirosos»?
Como dar a volta à ditadura do Logos sem ofender ninguém?
Talvez revalorizando a «doxa» que tão caluniada parece ter sido pelos detentores da «episte».
Não sei porque «aproximações contingenciais à verdade» não possam ser tão aceitáveis como a verdade absoluta da episte (que ainda por cima continua em eterna discussão se será assim tão absoluta).
Temos outra vez o exemplo da «homeopatia»?
A verdade absoluta dos absolutistas da ciência decreta que homeopatia não presta.
Mas a aproximação empírica, vivenciada, experimental e dóxica prova que resulta. De modo e maneira que vou rejeitar a doxa ( que me podia curar) e aceitar a episte (que me deixa morrer)?...
Anote-se ainda: Sofísticos, hoje, são os argumentos dos alegados cientistas e não os dos que assumem uma «doxa» empírica ou opinativa.
Uma das coisas que se pode aprender com a gnose vibratória de Etienne Guillé é que vale mais ter poucas certezas - poucas mas boas - do que muitas crenças, opiniões e teorias. Crenças, opiniões e teorias - tudo «cosa mentale» - leva-as o vento. Certezas estão inscritas no ADN molecular.

A ESTRUTURA GEOMÉTRICA DO ESPÍRITO HUMANO

Questão muito interessante e polémica levantada pelo nosso professor: «A estrutura matemática do espírito humano», defendida por alguns patriarcas da inteligência humana: Pitágoras , Santo Agostinho, São Boaventura .
À Naturologia interessa desde já, neste tema vastíssimo, saber que uma das 12 ciências sagradas - a Kaballah - tem que ser reconstruída (reconstituída).
E que as matemáticas modernas nada têm a ver com isso.
Aliás, muito linearmente, aconteceu o mesmo naquilo que podemos chamar a santíssima trindade da degradação (da Queda em sentido bíblico):
1 - A Alquimia degradou-se em Química
2 - A Astrosofia (ou Cosmobiologia) degradou-se em Astrologia kármica das feiras do oculto e etc
3 - A Numerosofia degradou-se em matemáticas modernas.
A Magia degradou-se em Medicina.

Um bom tema, este tema da queda, para a epistemologia, companheira de jornada da Naturologia.
Muito interessante este desafio: O Logos será ou não a famosa estrutura matemática e geométrica do espírito humano?
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17/11/1998

A IRRACIONALIDADE DA RATIO MÉDICA

LÉXICO HOJE OCORRENTE(Palavras-chave directamente ligadas à Naturologia são assinaladas com um asterisco *):

4 elementos da matéria *
Antropológico
Aritmolatria *
Axiomas
Ciência dedutiva
Ciência indutiva
Coincidentia opositorum
Hipótese *
Índice fiduciário epistemológico
Inteligência artificial
Mentalidade ideográfica *
Obediência computacional
Objectualidade
Racionalidade logarítmica
Realismo ingénuo
Res cogitans
Res extensa
Subjectividade
Universo *

AUTORES CITADOS:

Aristóteles
Descartes
Francis Bacon
Galileo
Giuseppe Ruggieri
Laplace
Newton
Nicolau de Cusa
Platão

SUBLINHADOS DESTA LIÇÃO:
A natureza é matematizável
Adequatio mente rei
Cogito ergo sum (o princípio do fim)
In uno multiplo verteri
O cogito está na origem do radicalismo racionalista
Razão torna-se autofágica
Vida contemplativa - ideal dos estóicos
Visão literatista do ensino

A irracionalidade da ratio médica (aquilo que a medo se vai incluindo na palavra «Iatrogénese») dá, hoje em dia, um bom exemplo concreto e infelizmente quotidiano daquilo que foi abordado na nossa aula como abstracção epistemológica : a irracionalidade da ratio em geral.
Ao enquadrar a ratio no quadro das 5 virtudes dianoéticas de Aristóteles, a epistemologia quase encontra maneira de desculpar, justificar e perdoar o rosário de crimes que hoje são imputáveis à ratio em geral e a algumas ratios em particular, nomeadamente as que mexem com as ciências que usam o prefixo «bio».
Os desmandos da ratio biocrática têm sido de tal ordem, que vieram uns senhores excepcionalmente bem intencionados ( de bem intencionados está o Inferno cheio) e criaram a Bioética.
No quadro das 5 virtudes dianoéticas aristotélicas, só uma poderá merecer alguma perplexidade, não pelo termo grego NOUS mas pela tradução em português, INTELECTO, que cheira muito a irracionalidade do cérebro direito.
Das 5 virtudes, a SABEDORIA - talvez por estar no meio das cinco - será a que merece melhor aceitação por parte do estudioso de epistemologia orientado para a Naturologia . Sabedoria , de facto, invoca a virtude do meio termo, entre Ciência e Consciência. Vale a pena repetir com Rabelais: Ciência sem consciência é ruína da alma.
Ciência médica sem consciência é ruína da vida.

EM DEFESA DO PREFIXO «BIO»

A propósito, valia a pena então defender o estudante universitário, alvo e vítima privilegiada das irracionalidades demenciais de todas as ratios ditas científicas. A maior razia, de facto, é feita no cérebro dessa amada juventude, que assim fica pavlovianamente condicionada para seguir no trilho que ao sistema mais convém. Só pela autoreprodução continuada o sistema se consegue manter. Autofagicamente mas manter.
Peço desculpa ao nosso professor José Alves mas o facto de haver, excepcionalmente, alunos que conseguem ser «bons» no meio de um sistema aberrante, não significa muito em abono desses alunos e muito menos desculpa o sistema. Se eles conseguem ser brilhantes - como assegurou o nosso professor - é porque, com certeza, gastaram a maior parte das suas preciosas bioenergias para adequar-se às besteiradas do sistema.
Para encornar em vez de pensar.
Para atrofiar uma parte do cérebro e hipertrofiar a outra.
Para fazer do seu precioso potencial vibratório de consciência um bidom de informações maior do que a Internet .
O que hoje se exige de um estudante universitário é que tenha uma memória maior do que a Internet: o que, em pleno império da dita, é algo de patológico. Para não dizer que é criminoso. Só que para estes crimes não há tribunal.
Em Maio de 1968, fecharam o que podia ter sido um tribunal para este tipo de criminalidade.
Os estudantes que se rebelaram e rebelam, querendo fazer uso da «mentalidade ideográfica» em que muito oportunamente falou o nosso professor, de certeza que foram ou serão esmagados.
Esmagados e postos «knock out», ou seja, fora do sistema, fora da sociedade, fora do sistema de emprego. Serão toda a vida desempregados do sistema, o que não é honra nem desonra mas apenas uma grande chatice.
A «mentalidade ideográfica» é o que sempre quiseram e continuam a querer alguns franco-atiradores, mas sem grande êxito prático. Toda a pedagogia escolar enfia milhões de alunos todos os anos naquilo que é o inverso (perverso) dessa mentalidade ideográfica.
No nosso curso de Naturologia Holística - onde, evidentemente, a «mentalidade ideográfica» deveria ser a única mental, tecnica e moralmente autorizada - passa-se exactamente o inverso do que devia ser: não é por culpa de ninguém, nem de professores nem de alunos. É a culpa do tal sistema, que é hoje, mais do que nunca, global e totalitário. Os jornais falam hoje muito de «globalização»: devem querer dizer que quando o barco se afundar, vamos todos, responsáveis e não responsáveis pelo afundamento, vamos todos ao fundo.

OS ALFABETOS SAGRADOS

Se ainda há palavras lindas numa língua profanizada como a língua portuguesa, UNIVERSO é com certeza uma delas. E valia a pena saber em que nível de frequência ela vibra.
Universo é o uno do diverso: só por si a definição da palavra holística. A palavra «holística» já era corrente na astrologia medieval. O latim «In uno multiplo verteri» tem, evidentemente, outro sabor e não é o mesmo que a sua tradução em português, «verter o múltiplo no uno».
Como teckne não é o mesmo que arte, episte não é o mesmo que ciência, fronesis não é o mesmo que sabedoria, sofia não é o mesmo que sapiência, nous não é o mesmo que intelecto.
Traduzir é sempre trair.
Recorrer às palavras latinas - como o nosso professor tantas vezes faz - não é mero artifício académico ou didáctico: corresponde a uma profunda ressonância das nomenclaturas que se encontram mais próximas da origem, o que é o caso do alfabeto grego e do idioma latino.
Diga-se, no entanto, que três únicos alfabetos se podem hoje considerar sagrados: o sânscrito, os hieróglifos egípcios e os ideogramas hebraicos.
Uma coisa isto prova: a famigerada dicotomia, hoje em voga, entre letras e ciências - como se se estivesse a separar o trigo (ciências) do joio (letras) - , vem de longe e tem raízes. A coisa começou a aquecer, de facto, quando os alfabetos mais próximos da língua primordial começaram a cair em desuso. «Língua morta» foi o anátema lançado ao Latim. E pronto. Enterrou-se o cadáver e foram todos muito contentinhos da silva para uma de ciência experimental.
Já espreitava a nova e segunda babel das linguagens particulares, das cifras indecifráveis, dos códigos secretos só para eleitos. Basta dar uma vista de olhos pelas nomenclaturas do nosso primeiro ano - bioquímica, biologia celular, botânica, anatomia, farmacognósia - para compreendermos perfeitamente onde a ratio virou a pura irracionalidade.
Onde a Alquimia se degradou em Química e Bioquímica.
Onde a Kaballah e a Numerosofia pitagórica se degradou em matemáticas «superiores».
Onde a Física das Energias ou Noologia se degradou em Física atómica ao serviço da destruição maciça e individual.
Onde a Alquimia da Vida e a Magia se degradou em biocracia médica das transplantações e da Iatrogénese.

A lógica performativa tem a sua arma principal nos códigos secretos das especialidades: ao corpo de elite - guarda pretoriana - que vigia policialmente esses códigos (e os faz render chorudos lucros) chama-se corpo de especialistas, cientistas, investigadores, etc. Ou, de um modo geral, «comunidade científica», entidade a que todos, regra geral, tiram reverentemente o chapéu.
A vantagem de um curso universitário para um homem vulgar, nem demasiado esperto nem demasiado estúpido, é colocar na frente desse homem vulgar a figura do seu Inimigo Principal.
Por acaso, a famigerada «língua morta» que é o Latim, volta a galope aos escaninhos dos nobres cientistas quando querem baptizar, com nomes de rigor - universais, digamos assim - as espécies vivas. Mas nessa época dos nomes latinos dados aos nossos irmãos animais e às nossas irmãs plantas, ainda a ciência não tinha entrado na demência paranóica e paroxística a que chegou hoje. Dividindo, dividindo, dividindo para continuar reinando.

ANTES DA VERGONHA MODERNA

A taxinomia (ou taxonomia) das espécies continua a ser um bom exemplo de que nem sempre a Ratio conduz à irracionalidade demencial. Aliás, se há época em que apesar de tudo a ciência ainda não tinha mostrado as fauces e em que pacificamente se podia filosofar sobre a ciência sem vomitar, é esse fim de século passado, em que imperou a «filosofia científica».
Quando quero ler discursos sobre a ciência sem me envergonhar de pertencer à espécie humana, vou aos meus queridos autores: o biólogo Pierre Lecomte de Nouy (1883-1947), o biólogo Félix le Dantec ( 1869-1917), o cirurgião e fisiologista Alexis Carrel (1873-1944), A. Dastre, Maurice Vernet, Paul Gaultier (que dirigiu na Flammarion a preciosa Biblioteca de Filosofia Científica), Maurice Pradines, Emile Boutroux, Alfred Still, Georges Lakhovsky, Luiz Buchner.
Ou mesmo Charles Darwin e Ernesto Haeckel, cujo aspecto mais detestável é terem parido uma ninhada de epígonos que nos têm moído a paciência neste século e principalmente neste fim de século em que, à conta da aceleração histórica, tem acelerado também a irracionalidade neurótica e psicótica da tal ratio.
Dos nomes acima enunciados, a maior parte não merece a honra sequer de figurar nas enciclopédias do sistema.
Este gueto das enciclopédias é um episódio muito curioso da telenovela chamada «irracionalidade da ratio».
Um indesejável da ciência será sempre excluído das ditas enciclopédias, que fazem e desfazem reputações, um pouco ao estilo das sondagens, best sellers e prémios mais ou menos Nobeis.
Podíamos elencar (como diz a nossa querida professora de Botânica) uma lista desses nomes indesejáveis e provavelmente iríamos lá encontrar o melhor lote de epistemologistas. Crítico radical da ciência não irá nunca parar às enciclopédias do sistema. Já dizia a minha avózinha e tinha toda a razão.
A menos que lhe seja dado, por engano, o Prémio Nobel (é o caso de Alexis Carrel, esse patriarca da Biomedicina ) ou por qualquer outra ocorrência do acaso, cientista crítico da ciência vai para o gueto do silêncio.
Enquanto não meterem o Etienne Guillé nas enciclopédias e no chafurdo da Internet, vou dormir tranquilo.
No dia em que tal acontecer, é porque já mudou muita coisa e a ratio começou a recuar nas suas traquibérnias de irracionalidade.

PONTO DE VIRAGEM

Falando das armas que a ratio tem à disposição para se tornar irracional até dizer basta, uma outra, citada na aula, deve ser sublinhada: a «aritmolatria» ou idolatria do número ou a sacralização do número, dá pano para mangas. Encurtando razões, basta lembrar que essa aritmolatria é a degradação moderna da numerosofia pitagórica e que a classificação do Roger Bacon ( 1214-1294) sobre os idola tribu já previa essa e todas as idolatrias modernas da Ratio em desvario.
Vale a pena voltar a esse monge franciscano do século XIII, mesmo que não tenha sido ele que falou dos «idola tribu»... A reabilitar, como parece que está a ser reabilitado o cardeal e bispo Nicolau de Cusa (1401- 1464). Esta reabilitação do Nicolau, no entanto, pode levar água no bico, já que, segundo uma enciclopédia, ele teria sido, com a sua cosmologia infinitista e anti-aristotélica, o precursor das concepções da física moderna.
A ratio moderna tem sempre uma avidez canina pelos tenros precursores, nomeadamente se bispos e cardeais, pois bem precisa de se enfeitar com transactas glórias.
A propósito de precursores recuperados pela moderna intelligentzia, um caso a estudar com afinco pela epistemologia e que diz directamente respeito à medicina holística que um curso de naturologia preconiza, é o de Fritjfof Capra, com duas obras em língua portuguesa e os editores já a disputar os direitos de o publicar: «O Tao da Física» ( Presença, 1989) e «O Ponto de Mutação» (Cultrix, São Paulo, 1982) são dois títulos de leitura obrigatória num curso de Naturologia: o primeiro - «The Tao of Phisics» - porque um físico atómico se presta ao papel de vir dizer que no taoísmo já estava dito tudo aquilo que a física moderna veio a descobrir com grande estrondo de foguetes; no segundo título, - «The Turning Point», conspecto histórico das doutrinas que nos levaram da racionalidade à irracionalidade, podemos encontrar aberta a porta para entrar no paradigma holístico e ocuparmos lá o lugar a que temos direito. Como estudantes de Naturologia mas principalmente como seres humanos.
Qualquer dia já temos o Fritjof Capra nas enciclopédias. Por enquanto e apesar de eminente físico atómico, continua de quarentena. Por enquanto só o cineasta Frank Capra está em todas...
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LIÇÃO DE 18/11/1998: O REGRESSO DO BOM SENSO
E AS INQUISIÇÕES MODERNAS/LÉXICO:

Austeridade da razão
Bios teoreticus
Diferencialidade *
Intuição platónica
Temporalidade
Topografia interior

AUTORES:
António Machado (1875-1939)
Blaise Pascal (1623-1662)
Giordano Bruno (1548-1600)
Helmut Plesner
Max Weber (1864-1920)
Platão(427 a C- 347 a C)

SUBLINHADOS:

In errore aliquid veritatis.
Não é razoável que eu me mate de tanto pensar.
Não há coisa mais perigosa do que não fazer o que tem de se fazer no momento em que as coisas têm de ser feitas.
O homem é uma excedência de sentido
O homem nunca coincide consigo mesmo
O homem precisa do outro
O homem vive num permanente fieri
O pensamento atropela as palavras
O sonho impulsiona a vida
O universo fica sem centro
Vida é abstracção, o que há é seres viventes.
Vivido está, vivido sou.

19/ Novembro/1998 - Razoabilidade será a primeira palavra a sublinhar nesta nossa lição de Epistemologia.
Palavra à qual eu gostaria, desde já, de contrapor um dos seus termos adversos: livresco. A ratio, hoje, tomou o freio nos dentes, principalmente na área institucional onde está mais à vontade para exercer o seu despotismo nem sequer iluminado.
Essa área é a escola, nomeadamente a escola dita superior, onde a neurose livresca atinge as raias do perfeitamente obsceno.
A razoabilidade, em vez do livresco dominante, é o que tem faltado à medicina moderna e, por isso, chegámos aos apuros de insensatez, que Ivan Illich (1926- ), no seu livro «Nemésis Médicale», definiu de modo lapidar: «A medicina moderna produz mais doenças do que as que diz curar.»
O termo razoabilidade que a epistemologia sugere, já se contém afinal em duas coisas do conhecimento vulgar e empírico: o bom senso e o senso comum, qualquer dos dois menosprezado pela classe intelectual e por todas as classes no poder.
A insensatez, pelos vistos, é extremamente rentável para o poder, nomeadamente o poder universitário em geral e o poder médico em particular.
Michio Kushi, nos seminários que deu em Portugal, quando as pessoas se mostravam atrapalhadas com o yin-yang alimentar, respondia pura e simplesmente: deixem-se guiar pelo bom senso, bússola para viajar no quotidiano. O bom senso, claro, inclui intuição, instinto e imaginação. E uma enorme paciência epistemológica para aturar os livrescos de todos os matizes e a irracionalidade de todas as ratios.
Não me admiro nada que essa neurose do livresco fosse a última besta do Apocalipse, coma as profecias avisaram.
A razoabilidade inclui todos os parâmetros que a psicologia viria a dividir mas que, inicialmente se encontravam unidos no coração humano: intuição, instinto, imaginação, sentido lúdico, emoção, sonho, experiência vivida, praxis existencial, concreto quotidiano, coisas que se foram perdendo, não só porque o império da razão ainda é mais destrutivo do que o império dos sentidos, mas porque as condicionantes sociais exercem uma enorme pressão para artificializar a vida quotidiana: o mercado gira sobre artefactos, não o esqueçamos. Artefacto e artifício andam perto.
Pedindo desculpa deste registo psicologista ao nosso professor José Alves, valia a pena perguntar porque é que a epistemologia, como ele já deu a entender, minimiza o registo psicologista e o registo sociológico. Parece haver um certo ciúme entre especialistas de diferentes ciências...
E o registo antropológico, sempre aqui tão dominante?

PENSO, LOGO NÃO EXISTO

Quando o professor nos diz «vivido está, vivido sou», está a dar-nos a afirmação inversa do cartesiano «cogito». E está a aproximarmo-nos de um registo existencial/existencialista, que a epistemologia académica também parece não admirar lá muito.
Das componentes que integrariam a razoabilidade, destaco uma que me parece problemático lá meter: a do irracional. O irracional tem conotações que podem ser politica e antropologicamente perigosas. Mais cauteloso é falar de a-racional.
Sem esquecer que o irracional já é uma derivante semântica do racional: é como se o racional se quisesse continuar a impor pelo seu contrário. É como se o racional fosse a parte positiva e simpática e o irracional fosse a face caótica e antipática. É como se entre racional e irracional não houvesse terceiro termo ou alternativa.
Quando um belo dia o senhor Gyorgy Lukács (1885-1971) acordou mal disposto e começou a acusar de «irracionalismo» o individualismo de Nietszche e de este ser o responsável pelo totalitarismo nazi-fascista, estava a fazer uso (e abuso) dessa ambiguidade que a palavra irracionalismo carrega.
Só o escritor e filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1973), anos mais tarde, viria a pôr ordem nesta bagunça de inspiração marxista-leninista, chamando aos bois pelos seus nomes e responsabilizando a neurose tecnocrática pelos crematórios nazis.
A razoabilidade não precisa de ser irracional nem racional mas apenas o que é: razoabilidade.

O DIREITO À DIFERENÇA

A registar também nesta lição com vista ao horizonte naturológico do ano 2000, é a diferencialidade ou «direito à diferença» como os ecologistas dos anos 70 proclamaram e como o sociólogo e filósofo marxista Henri Lefèbvre (1901- ), numa abertura rara em marxistas, escreveu no célebre «manifesto diferencialista».
Aí está um princípio - o diferencialismo - que continua no limbo da utopia, quando a massificação está a atingir o ponto de saturação e de não retorno. Nada impede que os ecologistas continuem a ladrar no deserto e a defender o «direito à diferença». Se formos a ver, é um direito que não está inscrito na Constituição da República mas nas impressões digitais de cada um. O que até serve para borrar o dedo no Arquivo de Identificação, único momento em que a sociedade se interessa pela nossa inviolável identidade.

AMAR SEIS VEZES (MENSAGEM DA ESFINGE)

Quando se inclui o amor na razoabilidade humana está-se a meter o rossio na betesga. O amor tem para os egípcios, na mensagem da esfinge, uma sêxtupla valência. Tudo indica que os hierofantes foram os únicos a saber o que era isso.
Nas sociedades ocidentais, que usam e abusam da palavra amor - assim como agora se usa e abusa da palavra «espírito» - vê-se bem com que ignorância o fazem.
Amor seria a emergência total e global de todo o potencial vibratório humano no dia em que o ser humano desenvolver todo esse potencial.
Amor poderia ser, em alquimia básica da vida, sinónimo de pedra filosofal.
O que, não sendo impossível, continua no entanto um pouco distante...

DISCORDÂNCIAS

Peço desculpa ao professor José Alves de uma discordância : «o aspecto exterior será ou não negligenciável?».
Respondo por mim: acho que é totalmente negligenciável. E enganador. Se há arte que os artifícios e artefactos da sociedade consumista/hedonista conseguiram requintar é a arte do disfarce, da cosmética, da aparência de santo com coração de crocodilo.
O que nunca engana para um observador preparado é o seu «aspecto» energético, aquilo a que os gurus de hoje em dia chamam «aura» e outras parlapatices.
Imagem energética de cada qual, essa sim, é que não é nada negligenciável para quem tenha que se defrontar, como terapeuta, com as dissimulações mais habilidosas a que a doença pode conduzir o ser humano em sofrimento.
Outra discordância: a conotação pejorativa com que se falou do trabalho físico e até do trabalho intelectual. Há efectivamente uma foçanguice no trabalho mas ela faz certa diferença do trabalho por necessidade e do trabalho escravo sobre o qual se erguem os esplendores das nossas tão queridas democracias.
«O Elogio da Preguiça» é um ensaio muito curioso de Paul Lafargue que os ecologistas dos anos 60/70 também puseram em voga. Na Segunda Idade de Ouro que está a nascer, não é a preguiça nem o trabalho a dominar mas a emergência criadora do ser humano, que é, aliás, bastante trabalhosa.
Interrogo-me sobre uma enorme dúvida que o nosso professor vai, com certeza, esclarecer proximamente. Havendo, no seu discurso, uma série de palavras aparentemente sinónimas, será que o são mesmo ou representam variantes significativas do mesmo?
São essas palavras:
Fronesis
Intelecto
Logos
Mente e mental
Nous
Pensamento
Ratio
Razão
Gostei de saber que o capitalismo nascera com o calvinismo e que foi autor da tese o respeitável sociólogo alemão Max Weber ( 1864-1920).
Se a ciência moderna parece virada para aquilo que desprezou e muitas vezes condenou à morte ou à masmorra - o Cosmos - e se Giordano Bruno (1540-1600) e Blaise Pascal ( 1623-1662) se encantaram com os espaços infinitos, ocorre que tudo isso se afigura um esforço de cosmética do racionalismo.
Temos de lembrar que o apelo à unidade é hoje a heresia mais perseguida no seio da comunidade científica. O que torna a abordagem holística de uma quase sobrehumana dificuldade, como facilmente se pode constatar nesta Escola de Naturologia.
Dividir para reinar continuará a ser o lema do poder e do establishment.
A Biocosmologia - interdependência entre micro e macrocosmos - é totalmente ignorada da ciência moderna e da ciência clássica, porque pura e simplesmente separou o micro do macrocosmos, fazendo disso a sua glória suprema.
Foi o momento de a Astrologia tomar o lugar que a ciência não quis nem soube ocupar.
Biocosmologia ou Cosmobiologia, queira ou não a ciência, é para aí que tudo caminha. O resto são fantasias quânticas de especialistas quânticos com medo de perder o emprego.
Unir o céu à terra seria a grande heresia no seio da ciência. Se Giordano Bruno foi parar à fogueira, o que poderia acontecer hoje quando as inquisições «soft» se tornaram mais sofisticadas e eficazes do que nunca?
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LIÇÃO DE 2/11/1998

AS TEORIAS DA VIDA E AS TEORIAS CONTRA A VIDA/ LÉXICO DESTA LIÇÃO:

Convencionalismo
Fixismo *
Homo logaritmicus
Intellectus = intus + legere (capacidade de harmonização dos contrários) *
Metafísica
Noosfera *
Polisemia difusa
Ratio inveniendi

AUTORES CITADOS NESTA LIÇÃO:

Charles Darwin
Edouard le Roy
Gabriel Garcia Marquez
Gaston Bachelard
Henri Poincaré
Jean Marie Domenach
Karl Popper
Lamarck
Nicolau de Cusa
Pierre Maurice Marie Duhem (1861-1916)(«Teoria Física» )
Pierre Teilhard de Chardin («O Fenómeno Humano»)
René Girard
S. Boaventura
Santo Agostinho

SUBLINHADOS DESTA LIÇÃO:

A metafísica funciona como arma secreta do espírito humano.
A nobreza ontológica do homem em relação aos demais seres.
A verdade está na ponta do bisturi ( positivismo)
As teorias são apenas convenções
As teorias são fruto da imaginação
Cemitério, lugar de vida
Ipsum verum factum est (É no fazer que está a verdade)
Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
Nullus effici beatus nisi supra semetipsum ascendat( ninguém se torna feliz se não se superar a si próprio) - S. Boaventura
O fetichismo dos dados
O homem é um ser axiotrópico
O homem tem uma forte tendência para a cafrealização
O índice incoativo da inteligência animal
Os valores brotam do coração

3 / 11/1998 - O convencionalismo de Jules Henri Poincaré (1854-1912) e Pierre Maurice Marie Duhem (1861-1916) tem consequências que só modernamente se podem avaliar em toda a sua extensão e gravidade.
A adequabilidade
a verosimilhança
a aceitabilidade
de uma teoria podem levar (e têm levado) a todas as loucuras.

Um problema prévio deve, no entanto, ser levantado, ao falar de teorias e do carácter «convencional» das teorias.
Mais uma vez, percorrendo uma relativamente vasta bibliografia, verifica-se que a epistemologia - e os epistemólogos mais em destaque - ocupam-se normalmente das ciências físicas, enquanto as ciências humanas e as ciências biológicas parecem estar ausentes das suas (deles) preocupações.
O que não deixa de ser estranho e, para um curso de Naturologia, trágico.

OS 4 CANCROS MODERNOS

Em ciência da vida (a chamada bio-logia) onde a devastação operada pelo chamado método científico tem sido total, há um silêncio de morte por parte dos críticos, analistas e epistemólogos.
No entanto, é nas ciências da vida (a chamada bio-logia) que os 4 cancros modernos do método científico têm proliferado de maneira incontrolável:
a) o cancro da nomenclatura, sempre em escalada logarítmica para a supercomplicação
b) o cancro do especialismo , sempre em escalada logarítmica (inflacionária) para o super-especialismo
c) o cancro das teorias que, exactamente pela sua verosimilhança, adequabilidade e aceitabilidade são, em ciências da vida, as mais perigosas.
d) o cancro das bibliografias exaustivas que ninguém jamais consultou ou consultará.

A do evolucionismo, única teoria das ciências da vida que os epistemólogos costumam citar, é uma delas: o evolucionismo é totalmente falso, do princípio ao fim, no entanto granjeou o apreço das massas e das elites exactamente porque se baseia numa certa «racionalidade», como observou o nosso professor.
«A Origem das Espécies», que , segundo as más línguas, foi livro de cabeceira de Hitler, Mussolini e parece que de Estaline (se acaso eles sabiam ler), adequa-se perfeitamente à praxis da luta de classes do bloco de Leste e à maratona capitalista do competitivismo do bloco ocidental. A sociedade que tem nas olimpíadas o seu símbolo mais carismático e a sua dinâmica razão de ser, tem no evolucionismo a sua religião de chambre e no Charles Darwin o seu guru.

Mas nem só o evolucionismo tem permitido à Biocracia moderna legitimar alguns dos seus crimes mais monstruosos e hediondos. Há mais :
a) A teoria microbiana do senhor Louis Pasteur, que ele próprio repudiou no fim da vida;

b) A teoria do vírus, de um senhor que não foi mas bem podia ter sido Luc Montagnier, cuja equipa do Instituto Pasteur inventou dois vírus da sida (e que também já veio desmentir-se em público).

Um caso interessante é o da teoria da hereditariedade, obviamente uma teoria que corresponde a factos ( e deixa por isso de ser teoria) mas que levou a medicina a adoptar um dos seus pilatismos mais usuais com que tenta legitimar a sua monumental ignorância: quando não sabe ou não lhe convém saber a causa causal ou ambiental (exógena ou endógena) de uma doença, manda as culpas para a hereditariedade, o que é, além do mais, uma lapalissada de todo o tamanho: todas as doenças, em princípio, são e não são hereditárias.
A sofisticar este gesto de pilatos veio a teoria genética: hoje a genética transformou-se num catálogo de doenças, no qual catálogo a ignorância médica encontra sempre um produto que lhe convém para explicar as doenças inexplicáveis (leia-se aqui que doenças inexplicáveis, para a medicina, são normalmente as doenças que ela produz, pelo fenómeno igualmente ignorado da iatrogénese).
Com a ajuda sempre diligente da comunidade científica, que de mafiosa não tem nada , a sociedade lá vai triando as teorias da vida que interessam aos seus objectivos de morte e aos objectivos de uma indústria da doença que logaritmicamente se ocupa hoje unicamente em aumentar os lucros.
Esquecendo, claro, aquelas que de facto servem a vida embora sejam pouco ou nada lucrativas.

QUANDO AS TEORIAS SE TORNAM PERIGOSAS

O problema das teorias é serem contra o real e não divorciadas do real. As mais perigosas, em ciências da vida, são precisamente as mais verosímeis, como a do vírus é bem o exemplo.
Se, nas ciências físicas, uma teoria errada é apenas mais uma onde tem havido tantas, nas ciências da vida, como a prática médica infelizmente confirma, tem consequências trágicas.
A fraude da medicina moderna baseia-se exactamente nessas teorias fraudulentas e a Naturologia não poderá avançar se receber, precisamente e sem crítica, essas teorias que dominam toda a patologia e toda a terapêutica.
Será, num curso de Naturologia, o nó górdio mais difícil de desatar.

IATROGÉNESE QUÍMICA E RADIOACTIVA

Onde, precisamente, o princípio do intellectus (inter+legere) faz mais falta - nas ciências da vida - esse princípio é completamente esquecido, enquanto nas ciências físicas permite a aparente tranquilidade que se goza nessa área.
À parte o nó górdio da radioactividade e das radiações ionizantes, que acaba por incidir, em cheio, nas ciências da vida (a vida é sempre a primeira e a última a pagar todas as culpas de todas as várias e desvairadas ciências ) a ciência física é um oásis.
Já a química , no que respeita à sua incidência sobre a célula viva, é outra vez a guerra permanente.
Não duvido que os químicos tenham trabalhado em teorias certíssimas. No entanto, foram essas teorias certíssimas que fizeram do mundo moderno - afogado em merda química e radioactiva - o tremedal que é.
Ninguém pode dizer, por exemplo, que os medicamentos não são baseados numa teoria certa e que não se destinam ao bem da humanidade.
Ninguém pode dizer que a farmacognosia não está certa da 1ª à última das suas 1500 páginas.
Os efeitos dos fármacos na célula viva - iatrogénese médica - é que nem sequer se discutem... Tabus e dogmas religiosos não se discutem.
De vez em quando fala-se do episódio Talidomida. Os jornais vão falando de outras talidomidazinhas. Mas a maior parte das talidomidas continuam no mercado, sem que ninguém suspeite das novas doenças que estão fabricando. Novas doenças que a teoria da hereditariedade vai atribuir aos bisavós do doente e a teoria genética ao gene 1051 que - acaba de se descobrir - é responsável pela doença do doente!!!

BIOQUÍMICA E BIOFÍSICA TAMBÉM SE BALDAM

Suposto era que a Biofísica e os biofísicos, bem como a Bioquímica e os bioquímicos, dessem - como interfaces interdisciplinares entre ciências - algum contributo ao conhecimento da verdade.
Nada de novo nessa frente, porém:
a) os instrumentos utilizados não conseguem detectar a alma (a bioenergia) na ponta do bisturi
b) Não podendo os instrumentos limitados descobrir o ilimitado da vida e do ser humano , como é óbvio, os biofíscos e os bioquímicos viram-se para dentro do limitado e estudam o seu gueto de estimação, transformando cada vez mais num gueto a ciência que produzem.
Gueto de luxo mas gueto, hoje, a Bioquímica e a Biofísica traduzem o autismo da neurose que ataca, de lés a lés, a comunidade científica, nomeadamente se está no campo complexo da vida e não nos serenos acimentados das ciências físicas e matemáticas, vias rápidas para lado nenhum.
Desgraçadamente, seriam a Bioquímica e a Biofísica dois contributos à ciência médica moderna, cujo destino só podia ser o daquelas duas ciências auxiliares: o gueto, promovido a campo de concentração.

AS TEORIAS ABANDONADAS PORQUE SERVIAM A VIDA

Entretanto, foram minimizadas , esquecidas e marginalizadas teorias que poderiam (e vão poder) servir o homem do novo paradigma.

Cito, por exemplo, o esquecido Rudolfo Wirchov (1821-1902), patologista e antropologista alemão, autor de uma «Patologia Celular» que ainda está por descobrir mas que permanece embargada pela censura médica, já que nela se detectam os primeiros princípios da nova medicina ortomolecular, ou antes, a lógica ortomolecular em medicina.

O microbiologista russo Elijah Metchnikoff ( 1845-1916), podia ter sido um fundador das ciências da Imunidade, se a instituição (Instituto Pasteur) e depois o Prémio Nobel (que compartilhou com Paul Ehrlich( 1854-1915) não o tivessem aliciado e desviado do bom caminho.

Outro esquecido é Georges Lakhovsky, com a teoria da electricidade da célula, onde estão os germes da nova medicina vibratória, de que hoje são dois ramos adultos a Gnose Vibratória e a medicina antroposófica.

Também esquecida e igualmente marginalizada foi a teoria vitalista, doutrina segundo a qual os fenómenos vitais derivam de forças e propriedades específicas, estando coordenados por uma força especial, chamada «força vital» e não dependem apenas das forças ou leis físico-químicas.
Apesar de ser uma teoria defendida por alguns craques - Aristóteles, escolásticos, Claude Bernard (teoria da directriz) , Barthez, J. Grasset, René Berthelot e Brunschvicg, apesar de tão boas credenciais, o vitalismo caiu no esquecimento, confirmando que a maior heresia no seio do cientifismo esclerosado é tudo o que aponte para o global e holístico da vida .
Pouco lucrativo, o vitalismo irá hibernar até que as condições cósmicas o exijam de novo cá fora.
Poderá dizer-se que renasceu com a teoria (a que eu prefiro chamar proposta de trabalho) dos campos de morfogénese cósmica de Rupert Sheldrake, talvez a mais esplendorosa das teorias actuais e que foi decisiva no «boom» da medicina vibratória.

A teoria do orgone, heroicamente defendida por Wilhelm Reich, tem a biografia atormentada do seu autor. Acabariam, teoria e autor, numa masmorra psiquiátrica norte-americana. Lendo Wilhelm Reich, um dos pensamentos mais lúcidos, provocadores e estimulantes do mundo moderno, temos a sensação de que ele marrou, toda a vida, contra as paredes da caverna, pressentindo que a luz e os pássaros estavam do outro lado da parede mas sem conseguir sair do buraco escuro.
Deixou-nos Reich a teoria do orgone, traduzindo, por outras palavras, o ki protochinês e o prana hindu.

O mesmerismo, teoria de Franz Anton Mesmer (1734-1815) veio até à actual «hipnose regressiva», equívoco que parte da medicina adoptou sem grande sucesso.
Nada impede que a hipnose continue a grassar, como praga, no meio das terapias alternativas. Tem o seu quê de violência mal controlada que agrada à mentalidade médica, estruturalmente violenta.
Outro caminho do mesmerismo iria, via Charcot ( 1825-1893), médico francês fundador da neurologia moderna, desembocar numa hipótese bem mais interessante - o magnetismo animal - igualmente esquecida e marginalizada. No entanto, o magnetismo animal é outro nome para dizer o mesmo : ki, prana ou bionergia.

Entretanto e proibidos pelos polícias do cientifismo de estudar e ter acesso à «força vital» ou bioenergia, os ocidentais começaram a demanda do que outras tradições tinham dito, com outros nomes, da mesma força vital ou bioenergia, descobrindo então a acupunctura, o yin yang taoísta, o chi kung, os chacras e outras coisas.

AS ETAPAS DO MÉTODO

A restante temática sugerida pelo convencionalismo de Henri Poncaré e Pierre Maurice Marie Duhem (1861-1916), está nos livros:
A hipótese funciona como a fase dinâmica e prospectiva nas 4 fases do método científico Sem hipótese, a investigação não avança para a verdade.
Hipótese é a entrada da criatividade e da imaginação no reino do inerte dos dados observados (Observação: 1ª fase do método científico) .
Mas o que se verifica hoje em dia é que a medicina embarga todas as hipóteses que nos podiam libertar das suas garras. O problema de um curso de naturologia, joga-se exactamente nessa 2ª fase do método científico: a hipótese.
Não haverá nova medicina sem novo paradigma e não haverá novo paradigma sem novas hipóteses que possam dar a reviravolta de 180 graus que se exige.
A merda, no método científico, é mesmo quando, dada a verosimilhança, adequabilidade e aceitabilidade da teoria, ela passa a lei. Não tarda então um minuto que a lei não passe a dogma e a ciência a religião.
Além disso, lei traz a carga semântica da ordem e da autoridade policial. Lei lembra tribunais, polícias, cães-polícia, juízes e advogados. Lei é lei, dura lei.
O panorama moderno de hecatombe nas bio-logias, deriva de leis que se transformaram em dogmas. Dogmas de que a medicina é a inexpugnável igreja.
Já no domínio da anedota, surgiu muito recentemente a teoria do caos para «estudar sistemas muito complexos» (sic).
Tal como os antibióticos (de espectro largo ou estreito) têm o nome com eles, esta «teoria do caos» tem o nome com ela.
A intervenção do computador - e das imagens em computador - denuncia que esta teoria veio dar alento à «virtualização» do real que tem vindo a invadir, como lepra, o campo do real.

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